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terça-feira, 16 de agosto de 2022

Procissão é proibida na Niquarágua

 

A Polícia Nacional proibiu a Igreja Católica na Nicarágua de realizar uma procissão em homenagem à Virgem de Fátima, que seria realizada neste sábado 13 de agosto, de acordo com um comunicado da Arquidiocese de Manágua, que convidou os fiéis a participarem no sábado às 8h da manhã na catedral da oração do Santo Rosário e Santa Missa presidida pelo cardeal Leopoldo Brenes.

Inicialmente, a procissão estava programada para sair às 7h dos arredores da escola Cristo Rey para a catedral de Manágua - percurso de 2km - no final de uma visita de 30 meses da invocação de Fátima na Nicarágua e também por ocasião do Congresso Mariano.

Dezenas de policiais mantêm sob cerco a cidade de Matagalpa, no norte do país, onde há nove dias detiveram à força monsenhor Rolando José Álvarez, bispo da Diocese, e dez colaboradores da Casa Episcopal.

A repressão contra a Igreja Católica aumentou desde junho passado: a prisão de dois padres, fechamento de dez estações na Diocese de Matagalpa, cerco à paróquia de Sébaco e, finalmente, ao assédio dirigido ao bispo em uma tentativa de silenciar a voz dos religiosos que questionam o regime socialista.

A vice-presidente Murillo, esposa de Ortega, liderou os ataques da mídia contra padres, a quem eles desqualificaram chamando-os de golpistas no passado, por terem apoiado os protestos que pediram uma mudança de governo em 2018 e foram brutalmente esmagados pela ditadura. As expressões usadas pela esquerda não mudam, pedir o impeachment de político esquerdista nunca pode, é “golpe”. Qualquer semelhança não é mera coincidência….

A réplica da imagem da Virgem de Fátima, trazida de seu Santuário em Portugal, chegou à Nicarágua em janeiro de 2020 como parte de um intenso dia de oração pela paz e unidade no país.

“Os comunistas têm medo de Nossa Senhora de Fátima”, garante o Cardeal chinês Zen.

  Via: Alerta Católico

sábado, 13 de agosto de 2022

Os diáconos permanentes, discípulos de Jesus Servo | Documento de Aparecida n° 205-208

 

Os diáconos permanentes, discípulos de Jesus Servo

205. Alguns discípulos e missionários do Senhor são chamados a servir à Igreja como diáconos permanentes, fortalecidos, em sua maioria, pela dupla sacramentalidade do matrimônio e da Ordem. Eles são ordenados para o serviço da Palavra, da caridade e da liturgia, especialmente para os sacramentos do batismo e do Matrimônio; também para acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais, especialmente nas fronteiras geográficas e culturais, onde ordinariamente não chega a ação evangelizadora da Igreja.

206. Cada diácono permanente deve cultivar esmeradamente sua inserção no corpo diaconal, em fiel comunhão com seu bispo e em estreita unidade com os presbíteros e os demais membros do povo de Deus. Quando estão a serviço de uma paróquia, é necessário que os diáconos e presbíteros procurem o diálogo e trabalhem em comunhão.

207. Eles devem receber uma adequada formação humana, espiritual, doutrinal e pastoral com programas adequados, que levem em consideração – no caso dos que estão casados – à esposa e sua família. Sua formação os habilitará a exercer seu ministério com fruto nos campos da evangelização, da vida das comunidades, da liturgia e da ação social, especialmente com os mais necessitados, dando assim, testemunho de Cristo servindo ao lado dos enfermos, dos que sofrem, dos migrantes e refugiados, dos excluídos e das vítimas da violência e encarcerados. 

208. A V Conferência espera dos diáconos um testemunho evangélico e um impulso missionário para que sejam apóstolos em suas famílias, em seus trabalhos, em suas comunidades e nas novas fronteiras da missão. Não é necessário criar nos candidatos ao diaconato expectativas permanentes que superem a natureza própria que corresponde ao grau do diaconato.

DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Edições CNBB, Paulinas, Paulus.2007


sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Os presbíteros, discípulos missionários de Jesus Bom Pastor | Documento de Aparecida N° 191- 204

 

5.3.2.1 Identidade e missão dos presbíteros

191. Valorizamos e agradecemos com alegria que a imensa maioria dos presbíteros vivam seu ministério com fidelidade e sejam modelo para os demais, que separem tempo para sua formação permanente, que cultivem uma vida espiritual que estimule os demais presbíteros e seja centrada na escuta da palavra de Deus e na celebração diária da Eucaristia: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada!”97. Agradecemos também àqueles que foram enviados a outras Igrejas motivados por um autêntico sentido missionário.

192. Um olhar ao nosso momento atual nos mostra situações que afetam e desafiam a vida e o ministério de nossos presbíteros. Entre outras coisas, a identidade teológica do ministério presbiterial, sua inserção na cultura atual e situações que incidem em sua existência.

193. O primeiro desafio tem relação com a identidade teológica do ministério presbiterial. O Concílio Vaticano II estabelece o sacerdócio ministerial a serviço do sacerdócio comum dos fiéis, e cada um, ainda que de maneira qualitativamente diferente, participa do único sacerdócio de Cristo98. Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, tem-nos redimido e nos permitido participar de sua vida divina. N’Ele, somos todos filhos do mesmo Pai e irmãos entre nós. O sacerdote não pode cair na tentação de se considerar somente um mero delegado ou só um representante da comunidade, mas sim em ser um dom para ela, pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo. “Todo Sumo Sacerdote é tomado dentre os homens e colocado para intervir a favor dos homens em tudo aquilo que se refere ao serviço de Deus” (Hb 5,1).

194. O segundo desafio se refere ao ministério do presbítero inserido na cultura atual. O presbítero é chamado a conhecê-la para semear nela a semente do Evangelho, ou seja, para que a mensagem de Jesus chegue a ser uma interpelação válida, compreensível, cheia de esperança e relevante para a vida do homem e da mulher de hoje, especialmente para os jovens. Este desafio inclui a necessidade de potencializar adequadamente a formação inicial e permanente dos presbíteros, em suas quatro dimensões; humana, espiritual, intelectual e pastoral99.

195. O terceiro desafio se refere aos aspectos vitais e afetivos, ao celibato e a uma vida espiritual intensa fundada na caridade pastoral, que se nutre na experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos; também o cultivo de relações fraternas com o Bispo, com os demais presbíteros da diocese e com os leigos. Para que o ministério do presbítero seja coerente e testemunhal, ele deve amar e realizar sua tarefa pastoral em comunhão com o bispo e com os demais presbíteros da diocese. O ministério sacerdotal que brota da Ordem Sagrada tem uma “radical forma comunitária” e só pode ser desenvolvido como uma “tarefa coletiva”100. O sacerdote deve ser homem de oração, maduro em sua opção de vida por Deus, fazer uso dos meios de perseverança, como o Sacramento da confissão, da devoção à Santíssima Virgem, da mortificação e da entrega apaixonada por sua missão pastoral.

196. Em particular, o presbítero é convidado a valorizar o celibato, como um dom de Deus, que lhe possibilita uma especial configuração com o estilo de vida do próprio Cristo e o faz sinal de sua caridade pastoral na entrega a Deus e aos homens com o coração pleno e indivisível. “Na verdade, esta opção do sacerdote é uma expressão singular da entrega que o configura com Cristo e da entrega de si mesmo pelo Reino de Deus”101. O celibato solicita assumir com maturidade a própria afetividade e sexualidade, vivendo-as com serenidade e alegria em um caminho comunitário102. 

197. Outros desafios são de caráter estrutural, como por exemplo, a existência de paróquias muito grandes que dificultam o exercício de uma pastoral adequada: paróquias muito pobres que fazem com que os pastores se dediquem a outras tarefas para poder subsistir; paróquias situadas em regiões de extrema violência e insegurança e a falta e má distribuição de presbíteros nas Igrejas do Continente.

198. O presbítero, a imagem do Bom Pastor, é chamado a ser homem de misericórdia e de compaixão, próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades. A caridade pastoral, fonte da espiritualidade sacerdotal, anima e unifica sua vida e ministério. Consciente de suas limitações, ele valoriza a pastoral orgânica e se insere com gosto em seu presbitério.

199. O Povo de Deus sente a necessidade de presbíteros-discípulos: que tenham uma profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros-missionários; movidos pela caridade pastoral: que os leve a cuidar do rebanho a eles confiados e a procurar aos mais distanciados pregando a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros-servis da vida: que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação.

200. Tudo isto requer que as Dioceses e as Conferências Episcopais desenvolvam uma pastoral presbiteral que privilegie a espiritualidade específica e a formação permanente e integral dos sacerdotes. A Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, enfatiza que: “A formação permanente, precisamente porque é “permanente”, deve acompanhar os sacerdotes sempre, isto é, em qualquer período e situação de sua vida, assim como nos diversos cargos de responsabilidade eclesial que sejam confiados a eles; tudo isso, levando em consideração, naturalmente, as possibilidades e características próprias da idade, condições de vida e tarefas encomendadas”103. Levando em consideração o número de presbíteros que abandonaram o ministério, cada Igreja local deve procurar estabelecer com eles relações de fraternidade e de mútua colaboração conforme as normas prescritas pela Igreja.

5.3.2.2 Os párocos, animadores de uma comunidade de discípulos missionários

201. A renovação da paróquia exige atitudes novas dos párocos e dos sacerdotes que estão a serviço dela. A primeira exigência é que o pároco seja um autêntico discípulo de Jesus Cristo, porque só um sacerdote enamorado do Senhor pode renovar uma paróquia. Mas ao mesmo tempo, deve ser um ardoroso missionário que vive o constante desejo de buscar os afastados e não se contenta com a simples administração.

202. Mas, sem dúvida, não basta a entrega generosa do sacerdote e das comunidades de religiosos. Requer-se que todos os leigos se sintam co-responsáveis na formação dos discípulos e na missão. Isto supõe que os párocos sejam promotores e animadores da diversidade missionária e que dediquem tempo generosamente ao sacramento da reconciliação. Uma paróquia renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. Igualmente, neste campo, se requer imaginação para encontrar resposta aos muitos e sempre mutáveis desafios que a realidade coloca, exigindo novos serviços e ministérios. A integração de todos eles na unidade de um único projeto evangelizador é essencial para assegurar uma comunhão missionária.

203. Uma paróquia, comunidade de discípulos missionários, requer organismos que superem qualquer tipo de burocracia. Os Conselhos pastorais paroquiais terão que estar formados por discípulos missionários constantemente preocupados em chegar a todos. O Conselho de assuntos Econômicos junto a toda a comunidade paroquial, trabalhará para obter os recursos necessários, de maneira que a missão avance e se faça realidade em todos os ambientes. Estes e todos os organismos precisam estar animados por uma espiritualidade de comunhão missionária: “Sem este caminho espiritual de pouco serviriam os instrumentos externos da comunhão. Mais do que modos de expressão e de crescimento, esses instrumentos se tornariam meios sem alma, máscaras de comunhão”104.

204. Dentro do território paroquial, a família cristã é a primeira e mais básica comunidade eclesial. Nela são vividos e transmitidos os valores fundamentais da vida cristã. Ela é chamada de “Igreja Doméstica”105. Ali, os pais desempenham o papel de primeiros transmissores da fé a seus filhos, ensinando-lhes através do exemplo e da palavra, a serem verdadeiros discípulos missionários. Ao mesmo tempo, quando esta experiência de discipulado missionário é autêntica, “uma família se faz evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente em que ela vive”106. Isto opera na vida diária “dentro e através dos atos, das dificuldades, dos acontecimentos da existência de cada dia”107. O espírito, que tudo faz, novo atua inclusive dentro de situações irregulares nas quais se realiza um processo de transmissão de fé, mas temos de reconhecer que, nas atuais circunstâncias, às vezes este processo se encontra com muitas dificuldades. Não se propõe que a Paróquia chegue só a sujeitos afastados, mas à vida de todas as famílias, para fortalecer sua dimensão missionária.

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DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Edições CNBB, Paulinas, Paulus.2007

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Quantas vezes perdoar? (Mateus 18,21-19,1)



No evangelho de Mateus, Jesus é questionado por Pedro sobre o tema perdão. Em uma resposta direta e fazendo referência a Lei judaica, Cristo indica que não deve perdoar “apenas sete vezes, mais setenta vezes sete”. Segundo os preceitos do seu tempo, o justo deveria perdoar até sete vezes. Porque o justo pecava até sete vezes ao dia. O número sete na Bíblia configura-se perfeição.

Para o auxílio e entendimento dos que o escutavam, Jesus conta a parábola do homem que devia uma grande quantidade de dinheiro ao patrão. Não tendo como pagar pediu clemência e foi perdoado, mas infelizmente não fez o mesmo que lhe devia uma quantia irrisória. O chefe sabendo de tal proceder mandou prendê-lo e deu ordem que esse não saísse até pagar o último centavo.

No nosso cotidiano Deus perdoa nossas faltas e nos convida a repetir a mesma coisa com o próximo. Na oração diária do Pai nosso Jesus nos ensina: “Perdoai a nossas ofensas como perdoamos aquém nos tem ofendido”. Quão difícil é perdoar aos que nos ofende gravemente chegando a desfigurar o nosso rosto de tristeza. Quantas vezes nos dá vontade de “fazer mal” a outra pessoa para que ela pague na mesma moeda. Porem Jesus nos desafia o caminho inverso que é o perdão.

Perdoa é um desafio, porem tem que se dar o primeiro passo rumo à reconciliação. Deus nos perdoa tão qual nós perdoamos os irmãos. A ordem é perdoar, porém não esquecer. Na parábola rei volta atrás em sua decisão pela dureza do coração do servo em não seguir seu exemplo.

Peçamos ao Senhor o dom de sermos misericordiosos uns com os outros, perdoando-nos mutuamente. Buscando superar as diferenças e mágoas do passado.


Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!


quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Os bispos, discípulos missionários de Jesus Sumo Sacerdote | Documento de Aparecida n° 186-190


186. Os bispos, como sucessores dos apóstolos junto com o Sumo Pontífice e sob sua autoridade, com fé e esperança aceitamos a vocação de servir ao Povo de Deus, conforme o coração de Cristo, o Bom Pastor. Junto com todos os fiéis e em virtude do batismo somos, antes de mais nada, discípulos e membros do Povo de Deus. Como todos os  batizados e, junto com eles, queremos seguir a Jesus, Mestre de vida e de verdade, na comunhão da Igreja. Como Pastores, servidores do Evangelho, somos conscientes de termos sido chamados a viver o amor a Jesus Cristo e à Igreja na intimidade da oração e da doação de nós mesmos aos irmãos e irmãs, a quem presidimos na caridade. É como disse santo Agostinho: com vocês sou cristão, para vocês sou bispo.

187. O Senhor nos chama a promover por todos os meios a caridade e a santidade dos fiéis.  Empenhamo-nos para que o povo de Deus cresça na graça mediante os sacramentos presididos por nós mesmos e pelos demais ministros ordenados. Somos chamados a ser mestres da fé e, portanto, a anunciar a Boa Nova, que é fonte de esperança para todos e a velar e promover com solicitude e coragem a fé católica. Em virtude da íntima fraternidade que provêm do sacramento da Ordem, temos o dever de cultivar de maneira especial os vínculos que nos unem a nossos presbíteros e diáconos. Servimos a Cristo e à Igreja mediante o discernimento da vontade do Pai, para refletir o Senhor em nosso modo de pensar, de sentir, de falar e de se comportar em meio aos homens. Em síntese, os bispos têm de ser testemunhas próximas e alegres de Jesus Cristo, Bom Pastor (cf. Jo 10,1-18).

188. Os bispos, como pastores e guias espirituais das comunidades a nós encomendadas, são chamados a “fazer da Igreja uma casa e escola de comunhão”. Como animadores da comunhão, temos a missão de acolher, discernir e animar carismas, ministérios e serviços na Igreja. Como padres e centro da unidade, esforçamo-nos por apresentar ao mundo o rosto de uma Igreja na qual todos se sintam acolhidos como em sua própria casa. Para todo o Povo de Deus, em especial para os presbíteros, procuramos ser padres, amigos e irmãos sempre abertos ao diálogo, especialmente para os presbíteros. 

189. Para crescer nestas atitudes, os bispos precisam procurar a união constante com o Senhor, cultivar a espiritualidade de comunhão com todos os que crêem em Cristo e promover os vínculos de colegialidade que os unem ao Colégio Episcopal, particularmente com seu cabeça, o Bispo de Roma. Não podemos esquecer que o bispo é princípio e construtor da unidade de sua Igreja Local e santificador de seu povo, testemunha de esperança e padre dos fiéis, especialmente dos pobres, e que sua principal tarefa é ser mestres da fé, anunciador da Palavra de Deus e da administração dos sacramentos, como servidores da grei.

190. Todo o Povo de Deus deve agradecer aos Bispos eméritos que, como pastores têm entregado sua vida a serviço do Reino de Deus, sendo discípulos e missionários. A eles acolhemos com carinho e aproveitamos sua vasta experiência apostólica que, não obstante, pode produzir muitos frutos. Eles mantêm profundos vínculos com as dioceses que lhes foram confiadas às quais estão unidos por sua caridade e sua oração.

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DOCUMENTO DE APARECIDA: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Edições CNBB, Paulinas, Paulus, 2007

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Bispo da Nicarágua em prisão domiciliar

 


A polícia da Nicarágua iniciou uma investigação criminal em 5 de agosto contra o bispo de Matagalpa Rolando Álvarez , que se opõe ao governo.

As acusações são vagas. Álvarez é acusado de tentar incitar os fiéis à violência, de “atos de ódio contra a população” e de perturbar a paz e a harmonia.

Ele foi confinado em sua residência na quinta-feira. A polícia o impediu de sair de casa para presidir a Eucaristia. Fiéis se reuniram ao redor de sua casa.

O bispo saiu para confrontar a polícia e abençoar o povo. Ele estava andando, cantando e orando com eles.

A certa altura, ele se ajoelhou na calçada, com as mãos para cima, ao lado de policiais que não intervieram, produzindo fotos que deram a volta ao mundo.

Em 6 de agosto, Álvarez celebrou uma eucaristia em casa transmitida em streaming. A investigação contra ele também diz respeito a seis sacerdotes e leigos.

O núncio nicaraguense Sommertag foi expulso do país em março, depois que as forças de segurança interceptaram seu apoio a uma conspiração para derrubar o governo.

Fonte: GlóriaTV/

domingo, 7 de agosto de 2022

Vocação sacerdotal: chamado para exercer um serviço de amor


 
 
Dom  Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano de Santo André – SP

Santo Agostinho escreve que o sacerdócio é um serviço de amor (amoris officium) porque é um serviço de pastor, é gastar a vida no zelo pelo rebanho que é o povo de Deus. A caridade pastoral é a pedra de toque da vida sacerdotal bem vivida, constitui o eixo da espiritualidade do padre diocesano e também a nota característica da nova evangelização: “Evangelização nova em seu ardor supõe fé sólida e caridade pastoral intensa…”2 . Deste modo, quem sente no íntimo do coração o chamado de Deus para seguir a vocação sacerdotal deve se preparar para o serviço de amor ao próximo no seguimento de Jesus, ou seja, na entrega da vida. Há necessidade de um período relativamente longo de preparação.

Esta preparação vai exigir um discernimento contínuo durante o tempo de formação que inclui a vida no seminário, estudo na faculdadede filosofia e teologia, trabalho de estágio pastoral, etc. Discernimento para descobrir a vontade de Deus a respeito da própria vocação, e discernimento para perceber até que ponto, está correspondendo com sinceridade aos sinais que Deus aponta no íntimo do coração. “Discernir é separar, selecionar, interpretar e julgar, para escolher e decidir”3 .

Há hoje um conflito entre vida como projeto pessoal e vida como vocação. A vida como projeto pessoal coloca o acento na liberdade da pessoa para fazer o que lhe apraz, e a vida como vocação coloca a pessoa diante do mistério de um chamado que faz do homem interlocutor de Deus. Daí surge o desafio de harmonizar e relacionar o projeto pessoal com o chamado de Deus. O período de discernimento tem como objetivo mostrar que a liberdade pode ser colocada a serviço da causa do Evangelho, e a vida pode ser descoberta como dom e missão. A vocação é dom do Espírito Santo, o vocacionado deve aprender a discernir com ajuda da comunidade, daqueles que a Igreja coloca tendo a missão de ajudar no processo de discernimento e de formação. São pessoas que tem o “ministério da orientação”, pessoas espirituais que vão ajudar perceber a qual é a vontade de Deus.

Daquele que se sente chamado ao sacerdócio, o período de discernimento e formação vai exigir muita atenção, disponibilidade e sensibilidade, para perceber os sinais que serão emitidos a partir do interior. Nesta situação a vida de oração, a espiritualidade é essencial para iluminar todo o processo de formação em todas as suas dimensões. “A voz do Senhor que chama não deve ser esperada de forma nenhuma, como algo que vá chegar de modo extraordinário aos ouvidos do futuro presbítero. Pelo contrário deve ser entendida e distinguida por meio dos sinais que diariamente se dão a conhecer aos cristãos atentos, prudentes”.4

Todo jovem chamado ao seguimento de Jesus na vida sacerdotal, recebe uma grande graça de Deus, mas ao mesmo tempo esta graça, este dom é exigente. É um chamado que impõe condições novas de vida, que faz o vocacionado diferente dos outros e isto às vezes pode pesar. Já no Antigo Testamento se enfatiza a separação, mesmo a respeito de familiares (Gn 12,1; Is 8,11; Jr 12, 6; 1Rs 19,4). Jesus vai também ser exigente (Lc 9, 23-24). O seguimento radical de Jesus exige a opção precisa de perder a vida no dom de si: “é morrendo que se vive”. Esta é a experiência profunda que o jovem chamado ao sacerdócio deve conseguir fazer, para ter paz durante o exercício de seu ministério e não ficar à mercê de uma imaturidade que nunca termina, com seu corolário de indecisões, meias verdades e decisões incompletas.5

Durante o período de formação para o ministério sacerdotal, muitos serão os elementos que vão ajudar o seminarista a consolidar sua vocação e adquirir aquela certeza de ter sido chamado, aquela intimidade com Jesus Cristo , que vai sustentá-lo por toda a vida. Gostaria de destacar aqui três elementos que julgo fundamentais, faço-o a partir da sinalização que nos dá o Concílio Vaticano II. “Ao afirmar o primado da evangelização, o Vaticano II propõe ao presbítero uma espiritualidade apostólica, profética e missionária, não só voltada em primeiro lugar para o culto e a vida interna da Igreja, mas para a missão no mundo e a convivência fraterna com os leigos (cf. PO n. 9)”6 . Lembremo-nos que somos hoje recordados de que a Igreja é missionária por sua natureza e quer responder aos desafios de hoje estando em permanente estado de missão: “A Igreja deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito”.7

Em primeiro lugar sinalizo o amor à Palavra de Deus. Quem se sente chamado ao ministério presbiteral deve ser um apaixonado pela Palavra de Deus, pois será o “homem da palavra”. O papa Bento XVI deixa bem claro a necessidade de se apresentar a Palavra de Deus aos jovens vocacionados e seminaristas como sendo fonte de firmeza e sabedoria: “Autênticas vocações para a vida consagrada e para o sacerdócio encontram seu terreno propício no contato fiel com a Palavra de Deus (…) Queridos jovens não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, e dá tudo. Quem se entrega a Ele, recebe o cêntuplo”.8 O papa recorda ainda que o estudo destes livros sagrados deve ser como afirma o concílio Vaticano II, a “alma da teologia”.9 O padre é profeta a serviço de um povo de profetas. Sem conhecer e assimilar a Palavra de Deus, o padre corre o risco de pregar a si mesmo e cair na mediocridade.

É a partir da Palavra de Deus lida, refletida, meditada e rezada, que se fortalece o amor a Jesus Cristo que é a seiva da árvore da vocação sacerdotal. Ele é a suprema revelação de Deus: “Se eu te falei já todas as coisas em minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra palavra a revelar ou responder que seja mais do que ele, põe os olhos só nele; porque nele disse e revelei tudo, e nele acharás ainda mais do que pedes e desejas”.10

Em segundo lugar sinalizo o amor à Eucaristia. A Eucaristia é fonte e ápice de toda a evangelização, é o centro da Assembléia Eucarística, o centro da comunidade de fiéis presidida pelo presbítero.11 Sem a Eucaristia e a vivência do mistério eucarístico impregnando a sua vida, o presbítero não vai perceber a dimensão comunitária da Igreja, não vai captar a Igreja como mistério de comunhão, poderá ser um diretor de consciências, conselheiro atento à vida íntima das pessoas. Porém, o múnus de pastor não se reduz ao cuidado individual dos fiéis, mas abarca a formação da comunidade cristã. “Não se edifica no entanto, nenhuma comunidade cristã se ela não tiver por raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia: por ela há de se iniciar por isso toda educação do espírito comunitário”12. O padre é sacerdote a serviço de um povo sacerdotal. Sem o gosto pela liturgia, cujo cume é a celebração Eucarística, haverá sempre o risco de se tornar um “funcionário do culto” e podendo ser fonte de desilusão para o povo de Deus.

Há um contraste entre o fixismo e absolutização de expressões litúrgicas, de um lado e o descuido e ignorância das normas litúrgicas de outro. Recordo aqui o que escreve o Papa Bento XVI sobre a Eucaristia e a evangelização das culturas: “A Eucaristia torna-se critério de valorização de tudo o que o cristão encontra nas diversas expressões culturais”.13 Assim, é necessário que o presbítero tenha cuidado, zelo e atenção às normas liturgias, mas também que tenha abertura para o que nos ensina ainda o papa Bento XVI ao discorrer sobre Bíblia e inculturação: “A aculturação ou inculturação será realmente um reflexo da encarnação do Verbo, quando uma cultura, transformada e regenerada pelo Evangelho produzir na sua própria tradição expressões originais de vida, de celebração, de pensamento cristão”.14

Em terceiro lugar o amor ao Reino de Deus que exige o empenho para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Sem alçar o olhar para o que os Evangelhos indicam como Reino de Deus, corre-se o risco de uma excessiva espiritualização do ministério presbiteral que, não raro, desemboca no fanatismo ou na idolatria de lideranças. O Catecismo da Igreja Católica aponta a Doutrina Social da Igreja como “o desenvolvimento orgânico da verdade do Evangelho sobre a dignidade da pessoa humana e sobre sua dimensão social. Ela contém princípios de reflexão, formula critérios de juízo e oferece normas e orientações para a ação em favor do Reino de Deus”.15

O Papa João Paulo II foi firme na doutrina, mas não menos firme em apontar a necessidade do empenho social da Igreja, na busca de defender os princípios de uma ética evangélica que trabalhe pela promoção integral da vida16 . Sua preocupação com a justiça social nos legou o Compêndio da Doutrina Social da Igreja no qual podemos ler: “Não menos relevante deve ser o esforço por utilizar a doutrina social na formação dos presbíteros e dos candidatos ao sacerdócio os quais, no horizonte da preparação ministerial, devem desenvolver um conhecimento qualificado do ensino e da ação pastoral da Igreja no âmbito social e um vivo interesse pelas questões sociais do próprio tempo”.17 A Congregação para a Educação católica ofereceu indicações e disposições precisas para a correta e adequada programação do estudo da Doutrina Social da Igreja por parte dos seminaristas.18 O padre é rei/pastor a serviço de um povo real de pastores.

Esta tria munera, que são características, mas também tarefas da Igreja, povo de profetas (Palavra), sacerdotes (Eucaristia) e Reis/Pastores (Paixão pela justiça do Reino) devem ser plasmada na vida e na consciência daqueles que estão se preparando para assumir o ministério presbiteral na Igreja. Um processo formativo mal conduzido, pode tender o formando a fixar-se somente em um destes itens. Ou privilegiando um em detrimento do outro o que produzirá padres desequilibrados no exercício de seu ministério: alguns querem se dedicar somente à Palavra conforme a tradição protestante. Outros com atenção somente para a liturgia e sacramentos conforme a tradição da reforma tridentina e outros ainda somente se ocupando da dimensão ética e social da fé caindo muitas vezes na tentação do secularismo.

Quero concluir esta reflexão sobre vocação e formação dos futuros presbíteros recordando as palavras do apóstolo Pedro a Jesus: “Tu sabes tudo Senhor, Tu sabes que eu vos amo” (Jo 21, 15-17). É o amor profundo por Jesus, Palavra encarnada, Palavra que se faz pão na Eucaristia para a vida do mundo, que deve nortear o itinerário de quem deseja tornar-se padre, ou quem já o é. O amor por Jesus deve ser a explicação do caminhar, a síntese da história de cada um. Este amor deve ser para o padre a chave de compreensão de toda sua vida e de seu empenho pastoral. É este amor que dará forças ao padre para exclamar como Ezequiel; “Andarei à procura da ovelha perdida e reconduzirei ao redil a que se extraviou, carregarei aquela ferida e cuidarei da que está doente”(Ez 34, 16).

São oportunas as ponderações do papa Bento XVI sobre a escassez de vocações sacerdotais que transcrevo aqui e desejaria fossem lidas à luz do que refleti acima: “A solução para a escassez não se pode encontrar em meros estratagemas pragmáticos; deve-se evitar que os bispos, levados por compreensíveis preocupações funcionais devido à falta de clero, acabem por não realizar um adequado discernimento vocacional, admitindo à formação específica e à ordenação candidatos que não possuam as características necessárias para o serviço sacerdotal. Um clero insuficientemente formado, e admitido à ordenação sem o necessário discernimento, dificilmente poderá oferecer um testemunho capaz de suscitar noutros o desejo de generosa correspondência à vocação de Cristo. Na realidade, a pastoral vocacional deve empenhar a comunidade cristã em todos os seus âmbitos”.19

Enfim, o desabrochar da vocação sacerdotal e o processo de formação deve ser capaz de introduzir o futuro presbítero na compreensão do dinamismo do amor cristão, o qual consiste em abraçar a causa do amor-serviço como caminho para a liberdade , no seguimento daquele que veio para servir e não para ser servido. É este amor que sustentará o padre quando ele tiver que segurar nas mãos de Jesus e caminhar sozinho com Ele.20
Notas

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Cf. In Iohannis Evangelium Tractatus 123, 5: PL 35, 1967
CELAM Doc. de Santo Domingo n. 28
DOMINGUEZ, L.M.G., Discernir o chamado, a avaliação vocacional, Paulus, S. Paulo, 2010,p.23
VATICANO II, PO n. 11
Cf., MANETi, A., Vocacione, psicologia e gazia, Dehoniane, Bologna, 1981
CNBB/CNP – Comissão Nacional dos Presbíteros (13º ENP/fev. 2010, documento final): “ENPs, 25 anos, celebrando e fortalecendo a comunhão presbiteral – “Eu me consagro por eles”(Jo 17, 19), Ed. CNBB, 1ª Ed., p. 27
BENTO XVI, Verbum Domini, n. 95. Recorde-se também o apelo à missão feito pelos bispos da América Latina e Caribe reunidos em Aparecida onde ressoou o apelo a ser Igreja de discípulos e missionários.
Cf. Verbum Domini n. 104
Cf. VATICANO II, Dei Verbum n. 24 e BENTO XVI, Verbum Domini n. 31
S. JOÃO DA CRUZ, Subida do Monte Carmelo, Livro II – cap. XXII n. 5
Cf. VATICANO II, Presbyterorum Ordinis n. 5
Idem n. 6
BENTO XVI, Sacraementum Caritais, n. 78.
IDEM, Verbum Domini, 114
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica n. 509; cf. tb., CIC ns. 2419 – 2423
O papa João Paulo II publicou três grandes encíclicas “sociais”; Laborem exercens, Sollicitudo rei socialis e Centesimus annus. Não deixa de ser tendencioso o gosto em frisar muito a defesa da ortodoxia por parte do papa João Paulo II, esquecendo-se da sua relevância na moral (ortopraxis).
PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, Compêndio da Doutrina Social da Igreja,Paulinas, S. Paulo, 2005, p. 298.
Cf., Orientações para o estudo e o ensino da Doutrina Social da Igreja na formação sacerdotal, Itipografia Poliglota vaticana, Cidade do Vaticano, 1988. Não podemos esquecer que: “O sacerdote constrói a ponte entre Deus e os homens, mas também as pontes entre os homens”, GRUN A., Ordem, vida sacerdotal, Loyola, S. Paulo, 206, 15.
BENTO XVI, Sacramentum caritatis, n.25; JOÃO PAULO II, pastores Dabo vobis, n. 41
TERESA DE CALCUTÁ, in KOLODIEJCHUK, B., Madre Teresa, venha seja minha luz, Thomas Nelson Ed, Rio, 2008, p.25.

Fonte:CNBB |  https://www.cnbb.org.br/vocacao-sacerdotal-chamado-para-exercer-um-servico-de-amor/ Acesso em 02/08/2022

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