A figura imponente, bravura e prudência de Sebastião tanto agradaram ao imperador que este o nomeou comandante da guarda imperial. Nesta posição elevada, tornou-se o grande benfeitor dos cristãos encarcerados. Tendo entrada franca em todas as prisões, ia visitar as pobres vítimas do rancor e ódio pagão, e com palavras e dádivas consolava e animava os candidatos ao martírio.
Ocorreu que dois irmãos, Marco e Marceliano, não se acharam com coragem de afrontar os horrores da tortura e, aconselhados pelos pais e parentes, resolveram-se a sacrificar aos deuses. Mal teve ciência disto, Sebastião procurou-os e, com sua palavra cheia de fé, reanimou os vacilantes, levando-os a perseverar na religião e antes sacrificar tudo que negar a fé. Marco e Marceliano recobraram ânimo e prometeram a Sebastião fidelidade na fé até a morte.
Profunda comoção apoderou-se de todos que assistiam a esta cena. Uma das pessoas então presentes era Zoé, esposa do funcionário imperial Nicostrato. Esta pobre mulher estava muda há seis anos. Impressionada pelo que presenciara, prostrou-se aos pés de Sebastião, procurando por sinais interpretar o que lhe desejava dizer. Sebastião fez o sinal da Cruz sobre ela e imediatamente Zoé recuperou o uso da língua. Ela e o marido converteram-se ao cristianismo. Este exemplo foi imitado pelos pais de Marco e Marceliano, pelo carcereiro Cláudio e mais 16 pessoas. Todos receberam o santo batismo das mãos do sacerdote Policarpo, na casa de Nicostrato.
A conversão destas pessoas em circunstâncias tão extraordinárias chamou a atenção do prefeito de Roma, Cromâncio. Sofrendo horrivelmente de reumatismo e, sabendo que o pai de Marco e de Marceliano tinha ficado curado do mesmo mal pelo Batismo, manifestou o desejo de conhecer a religião cristã. Sebastião deu-lhe as instruções necessárias, batizou-o com seu filho Tibúrcio e curou-o da doença. Tão grato ficou Cromâncio que pôs em liberdade os cristãos encarcerados seus escravos, e renunciou ao cargo de prefeito. Retirando-se da cidade para sua casa de campo e deu abrigo aos cristãos acossados pela perseguição. Esta recrudesceu de uma maneira assustadora. O Papa São Caio chegou a aconselhar os cristãos e o próprio São Sebastião a se retirarem da cidade, mas São Sebastião preferiu ficar em Roma, mesmo que isso culminasse em seu martírio.
Muito tempo não levou e Diocleciano soube, por uns cristãos apóstatas, que Sebastião era cristão e prestava grandes serviços aos encarcerados. Chamou-o à sua presença e repreendeu-o, tentando incansavelmente convencê-lo a abandonar a religião de Cristo. Todas as argumentações e tentativas de Dioclesiano esbarraram de encontro à vontade inflexível do militar. Sem mais delongas, deu ordem aos soldados que amarrassem o chefe a uma árvore e lhe enflechassem, tendo a ordem sido cumprida imediatamente. Os soldados despiram-no, ataram-no a uma árvore e atiraram-lhe setas em tanta quantidade quanto acharam necessárias para matar um homem, deixando a Sebastião neste mísero estado, supondo-o morto.
À alta noite chegou Santa Irene, mulher do mártir Castulo, ao lugar da execução para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com grande admiração, encontrou-o com vida, levando-o para casa e tratando com todo o desvelo. Restabelecido, o herói procurou o imperador e, sem pedir audiência, apresentou-se-lhe, acusando-o de grande injustiça, por condenar inocentes, como eram os cristãos, a sofrer e a morrer. Diocleciano, a princípio, não sabia o que pensar e dizer, pois tinha por certo que Sebastião não existia mais entre os vivos. Perguntando-lhe quem era, disse-lhe: “Sou Sebastião, e o fato de eu estar vivo, devias concluir que é poderoso o Deus, a quem adoro, e que não fazes bem em perseguir-lhe os servos.”
Enfurecido, Diocleciano ordenou aos soldados que o matassem com paus e bolas de chumbo na presença do povo. Os algozes cumpriram a ordem e, para impedir a veneração do cadáver pelos cristãos, atiraram-no à cloaca máxima. Porém, uma piedosa mulher, Santa Luciana, achou-o e tirou-o da imundície e sepultou-o aos pés de São Pedro e São Paulo, isto em 287.
Posteriormente, em 680, as relíquias foram transportadas solenemente para uma Basílica, construída por Constantino. Naquela ocasião grassava uma peste em Roma, que vitimou muita gente. A terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação, e esta é a razão porque os cristãos veneram em São Sebastião o grande padroeiro contra a peste. Em outras ocasiões se verificou o mesmo fato; assim no ano de 1575 em Milão, e em 1599 em Lisboa, ficando estas duas cidades livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião.
(Texto extraído de “Na Luz Perpétua”, por Pe.
J. B. Lehmann, e disponível na Página Oriente)
Título original: SANTOS FABIANO PAPA E SEBASTIÃO
(20 de janeiro)
Fonte: Missa Trindetina
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