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quinta-feira, 30 de março de 2023

O Vaticano repudia a doutrina colonial da descoberta


CIDADE DO VATICANO (AP) - O Vaticano respondeu na quinta-feira às demandas indígenas repudiando oficialmente a doutrina da descoberta, as teorias apoiadas por bulas papais do século 15 que legitimaram a grilagem de terras indígenas da era colonial e foram a base para algumas leis de propriedade atuais.

As bulas ou decretos papais do século 15 "não refletiam adequadamente a igual dignidade e os direitos dos povos indígenas" e nunca foram considerados expressões da fé católica, disse um comunicado do Vaticano.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Diocese de Salgueiro (PE) tem novo Bispo

 

O Papa Francisco nomeou  o Padre José Vicente Pinto de Alencar Silva, como novo Bipo da Diocese de Salgueiro no Estado de Pernambuco. A citada diocese estava vacante desde da nomeação do então Bispo Dom Magnus Henrique Lopes foi transferido para diocese de Crato(CE), em janeiro de 2022.

domingo, 26 de março de 2023

A Tradição da "Velátio" na Quaresma.



É costume muito antigo na Igreja, a partir do quinto Domingo da Quaresma também chamado de primeiro Domingo da Paixão, na forma extraordinária do Rito Romano, (sendo na verdade o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, o Segundo Domingo da Paixão) – cobrir com pano roxo as cruzes, quadros e imagens sacras. As cruzes ficam cobertas até o final da liturgia da Sexta – Feira Santa, os quadros e demais imagens até a celebração da noite de Páscoa.

sexta-feira, 24 de março de 2023

179 anos do nascimento do Pe. Cícero Romão Batista.


“Minha Santa, Beata Mocinha Eu vim aqui, vim ver meu padrin’ Meu padrin’ fez uma viagem, oi Deixou Juazeiro sozinho Meu padrin’ fez uma viagem, oi Deixou Juazeiro sozinho“ (Luiz Gonzaga)


É impossível ser Nordestino e não conhecer a figura do Pe. Cícero Romão Batista, ou ‘Padrin Ciço’ com carinhosamente chamamos. Cícero Romão Batista, nasceu em 24 de março de 1844 na cidade do Crato/CE. Morreu em 21 de julho de 1934 na cidade de Juazeiro (do Norte), na região Cariri do Ceará.

quarta-feira, 22 de março de 2023

Comissão do Senado aprova criação do Dia Nacional do Terço dos Homens



A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou ontem (21) o projeto de lei que cria o Dia Nacional do Terço dos Homens, a ser comemorado em 8 de setembro. O texto segue agora para a sanção presidencial.

O projeto de lei de autoria do deputado Eros Biondini (PL-MG) já tinha sido aprovado em junho do ano passado na Câmara dos Deputados. Na justificativa de sua proposta, Biondini destacou o “profundo significado devocional para os católicos brasileiros e a força desse movimento para o fortalecimento de uma sociedade justa, solidária e comprometida com a dignidade e a espiritualidade do ser humano”.

“O terço dos homens é um movimento cristão que tem o propósito de engajar na Igreja Católica homens de todas as gerações mediante esse ato de fé e devoção, como estímulo fundamental à formação da família cristã e da sociedade como um todo”, disse ontem o relator do projeto, o senador Wellington Fagundes (PL-MT).

Fagundes recordou que o movimento “foi instituído por frei Peregrino no dia 8 de setembro de 1936, no povoado de Vila da Providência, hoje cidade de Itabi, no estado de Sergipe”. Por isso, esta foi a data escolhida para o Dia Nacional do Terço dos Homens.

No dia 8 de setembro, a Igreja católica celebra a Natividade de Nossa Senhora.

O movimento do Terço dos Homens já é reconhecido por lei em alguns estados do Brasil, como Sergipe, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Maranhão.

Atualmente, o movimento estima que haja cerca de 2,5 milhões de tercistas em todo o país. Eles costumam se reunir pelo menos uma vez por semana para rezar em suas paróquias, capelas, santuários ou até em praças públicas.

Todos os anos, fazem a Romaria Nacional do Terço dos Homens ao santuário de Aparecida (SP). Trata-se, segundo o próprio santuário, da maior romaria que acontece ao templo mariano. Neste ano, aconteceu entre 10 e 12 de fevereiro e contou com a participação de 70 mil homens do terço.

 

Informações ACI Digital.

terça-feira, 21 de março de 2023

Padre é condenado a pagar R$ 10 mil a médico que faz abortos previstos na lei



O padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, presidente do movimento Pró-Vida de Anápolis (GO), foi condenado a pagar R$ 10 mil de indenização por danos morais ao médico obstetra de Pernambuco que faz abortos previstos na legislação, Olímpio Moraes Filho, na sexta-feira, 17 de março.

Segundo o obstetra, padre Lodi o chamou de "assassino" e fez “graves acusações caluniosas” contra ele por meio de textos no site do movimento Pró-Vida de Anápolis, depois que ele se dispôs a realizar um aborto em uma menina de dez anos em São Mateus (ES). A menina, vítima de estupro do tio, estava grávida de 22 semanas do tio.

domingo, 19 de março de 2023

Reflexão para o IV Domingo da Quaresma


Ao encontrar Jesus, aquele que fora cego faz sua profissão de fé, ajoelhando-se e proclamando Jesus como Senhor.

Aprimeira leitura nos diz que Deus não se impressiona com a aparência, seus critérios são outros. Enquanto o homem “vê a aparência, Deus olha o coração”, (conf. I Sam 16, 7). E o coração que agrada a Deus é o dos pequenos, dos humildes. Também nós deveríamos não nos impressionar com a beleza externa das pessoas, mas deixar o Espírito falar e observar a beleza interna.

No Evangelho, o cego é o único dentre a multidão, a reconhecer Jesus como o Messias, como o Redentor, como o Senhor. Sua profissão de fé é feita aos poucos. Primeiro ele pede a cura para sua deficiência visual. Após a cura física, ele vai proclamando que foi Jesus quem o curou. Isso causa problemas com os sacerdotes e ministros religiosos. O cego não tem dúvidas e desafia os poderosos que o expulsam da comunidade.

sexta-feira, 17 de março de 2023

III Pregação da Quaresma 2023 “Deus é amor!”

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 17 de março, a terceira pregação da Quaresma intitulada "Deus é amor". O Papa Francisco participou deste momento.

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“DEUS É AMOR!”

Terceira Pregação, Quaresma de 2023

 

Há necessidade da teologia!

Para a minha e a sua consolação, Santo Padre, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs, esta meditação será centrada toda e apenas sobre Deus. A teologia, isto é, o discurso sobre Deus, não pode permanecer estranha à realidade do Sínodo, como não pode permanecer estranha a qualquer outro momento da vida da Igreja. Sem a teologia, a fé se tornaria facilmente morta repetição; careceria do instrumento principal para a sua inculturação.

quinta-feira, 16 de março de 2023

Sínodo: instituída a Comissão preparatória da Assembleia Geral

Comissão é presidida pelo Cardeal Grech, que nomeou nesta quarta-feira os membros; participará também o relator geral, Cardeal Hollerich

Da Redação, com Vatican News




Papa Francisco na abertura do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano / Foto: Vatican Media – Handout via Reuters

Sete, incluindo uma religiosa, são os membros da Comissão preparatória para a realização da Assembleia Geral ordinária do Sínodo. O órgão, criado de acordo com o Art. 10, par. l-2 da Constituição Apostólica Episcopalis Communio, foi instituído nesta quarta-feira, 15, e será presidido pelo Cardeal Mario Grech, secretário-geral.

Os membros da comissão são: o padre jesuíta Giacomo Costa, coordenador; Dom Timothy John Costelloe; Dom Daniel E. Flores; Irmã Shizue Hirota; Dom Lucio A. Muandula; professor Dario Vitali.

O secretário é monsenhor Tomasz Trafny. O relator geral do Sínodo, Cardeal Jean-Claude Hollerich, também participará dos trabalhos da Comissão.

Ao mesmo tempo em que cria a Comissão preparatória, a Secretaria do Sínodo propôs para quarta-feira, 31 de maio, memória litúrgica da Visitação de Nossa Senhora na conclusão do Mês Mariano, que se realize uma oração mariana mundial em preparação ao 16º Sínodo dos Bispos.

O objetivo, lê-se numa nota, é “conscientizar o Povo de Deus sobre a importância do processo em andamento e exortar os fiéis a acompanhá-lo com a oração” e colocar “sob a específica proteção de Nossa Senhora todo o Processo sinodal na Igreja, especialmente os trabalhos da Assembleia geral”.
Um momento de intensa oração

O convite, dirigido em nome do cardeal Grech aos chefes das Igrejas Católicas Orientais e aos presidentes das Conferências Episcopais, é para realizar “um momento de intensa oração que expresse a beleza da religiosidade popular em torno dos santuários marianos”, que serão escolhidos a critério pelas Conferências Episcopais de cada país.

A oração deve incluir a participação das diferentes vocações eclesiais (leiga, sacerdotal, consagrada). As comunidades paroquiais individuais, de acordo com seu bispo diocesano, também são convidadas a realizar um momento de oração nesse dia pelos trabalhos do Sínodo.

terça-feira, 14 de março de 2023

Ladrões arrombam Igreja de Nossa Senhora do Ó em Serra Negra do Norte (RN)

 


A Igreja de Nossa Senhora do Ó, da cidade de Serra Negra do Norte (RN), foi arrombada na madrugada desta segunda-feira (13), por volta das 03h.

De acordo com informações repassadas ao Blog do Sidney Silva pelo radialista Donaldo Nazário Serra, pelo menos 5 homens, 4 deles encapuzados, entraram na igreja e roubaram a coroa da Imagem de Nossa Senhora do Ó, arrombaram o Sacrário e espalharam as hóstias pelo presbitério e altar. A informação inicial da conta que a coroa não tem valor comercial.

Os ladrões arrombaram a porta principal do templo. Na fuga, um deles deixou cair um relógio. Eles estavam em um veículo Ford Ka de cor branca e foram vistos transitando na cidade por volta das 22h.

O pároco, Padre José Mário, foi acionado e rapidamente chegou ao local, constatou o roubo e se deslocou para Caicó, onde registrou queixa na Delegacia de Polícia Civil. O templo ficou isolado pela Polícia Militar.

Sidney Silva/ Robson Pires.

sábado, 11 de março de 2023

II Pregação da Quaresma 2023 O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê” (Rm 1,16)


O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 10 de março, a segunda pregação da Quaresma intitulada “O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê” (Rm 1,16)

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap


“O EVANGELHO É PODER DE DEUS PARA TODO AQUELE QUE CRÊ”(Rm 1,16)

Segunda Pregação, Quaresma de 2023


Da Evangelii Nuntiandi de São Paulo VI à Evangelii gaudium do atual Sumo Pontífice, o tema da evangelização tem estado no centro das atenções do Magistério papal. A isso, têm contribuído as grandes encíclicas de São João Paulo II, como também a instituição do Pontifício Conselho para a Evangelização, promovido por Bento XVI. A mesma preocupação se nota no título dado à constituição para a reforma da Cúria Praedicate Evangelium e na denominação “Dicastério para a Evangelização”, dada à antiga Congregação de Propaganda Fide. A mesma finalidade é designada agora principalmente ao Sínodo da Igreja. A ela, isto é, à evangelização, gostaria de dedicar a presente meditação.

A definição mais sucinta e mais impregnante da evangelização é a que se lê na Primeira Carta de Pedro. Nela, os apóstolos são definidos: “aqueles que vos evangelizaram em virtude do Espírito Santo” (1Pd 1,12). Aí está expresso o essencial sobre a evangelização, isto é, o seu conteúdo – o Evangelho – e o seu método – no Espírito Santo.

Para saber o que se entende com a palavra “Evangelho”, a via mais segura é perguntar a quem usou por primeiro esta palavra grega e a tornou canônica na linguagem cristã, o apóstolo Paulo. Temos a felicidade de possuir uma exposição, de seu próprio punho, que explica o que ele entende por “Evangelho”, e é a Carta aos Romanos. O tema dela é anunciado com as palavras: “Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16)

Para o sucesso de todo novo esforço de evangelização, é vital ter claro o núcleo essencial do anúncio cristão, e isto ninguém trouxe à luz melhor do que o apóstolo nos primeiros três capítulos da Carta aos Romanos. Do entender e aplicar à situação atual a sua mensagem depende, estou convencido, se dos nossos esforços nascerem filhos de Deus, ou se se terá que repetir amargamente com Isaías: “Engravidamos e tivemos dores de parto, mas demos à luz o vento; não trouxemos melhoras à terra, e não nasceram novos habitantes para o mundo” (Is 26,18).

A mensagem do Apóstolo naqueles três primeiros capítulos da sua Carta pode ser resumida em dois pontos: primeiro, qual é a situação da humanidade diante de Deus em seguida ao pecado; segundo, como se sai dela, isto é, como nos salvamos pela fé e nos tornamos nova criatura.  Sigamos o Apóstolo em seu estreito raciocínio. Melhor, sigamos o Espírito que fala por meio dele. Quem já fez viagens de avião, terá escutado algumas vezes o aviso: “Afivelem os cintos, estamos passando por uma área de turbulência”. Seria preciso fazer ressoar o mesmo aviso a quem se presta a ler as seguintes palavras de Paulo.

Revela-se do céu a ira de Deus contra toda impiedade e injustiça dos homens que na injustiça impedem a verdade, pois o que de Deus se pode conhecer é entre eles manifesto, já que Deus o manifestou a eles. De fato, os atributos invisíveis de Deus, seu poder eterno e sua divindade, são compreendidos através das coisas feitas, desde a criação do mundo, a fim de que eles não tenham desculpa. Por isso, mesmo tendo conhecido a Deus, nem o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus incorruptível pela aparência da imagem de um ser humano corruptível e de pássaros, quadrúpedes e répteis (Rm 1,18-23).

O pecado fundamental, o objeto primário da ira divina, é identificado, como se vê, na asebeia, isto é, na impiedade. Em que consiste, exatamente, tal impiedade, o Apóstolo explica imediatamente, afirmando que ela consiste na rejeição em “glorificar” e “agradecer” a Deus. Estranho! Este fato de não glorificar e agradecer a Deus o suficiente parece-nos, sim, um pecado, mas não tão terrível e mortal. É preciso entender o que se esconde por detrás disso: a rejeição em reconhecer Deus como Deus, o não lhe tributar a consideração que lhe é devida. Consiste, poderíamos dizer, em “ignorar” Deus, onde ignorar não significa tanto “não saber que existe”, mas “fazer como se não existisse”.

No Antigo Testamento, ouvimos Moisés que grita ao povo: “Reconhecei que Deus é Deus!” (cf. Dt 7,9) e um salmista retoma tal grito, dizendo: “Reconhecei que o Senhor é Deus; Ele nos fez, nós somos dele” (Sl 100,3). Reduzido ao seu núcleo germinativo, o pecado é negar este “reconhecimento”; é a tentativa, da parte da criatura, de cancelar, de iniciativa própria, quase por prepotência, a diferença infinita que há entre ela e Deus. O pecado ataca, de tal maneira, a própria raiz das coisas; é um “impedir a verdade na injustiça”. É algo de muito mais sombrio e terrível do que o homem possa imaginar ou dizer. Se os homens soubessem, enquanto vivos, como o saberão no momento da morte, o que significa a rejeição de Deus, morreriam de susto.

Tal rejeição tomou corpo, ouvimos, na idolatria, pela qual se adora a criatura no lugar do Criador. Na idolatria, o homem não “aceita” Deus, mas faz para si um deus; é ele a decidir por Deus, não vice-versa. Os papéis são invertidos: o homem se torna o oleiro e Deus o vaso que ele modela a seu bel-prazer (cf. Rm 9,20ss.). Hoje, esta antiga tentativa assumiu uma nova veste. Ela não consiste em pôr algo – nem mesmo a si mesmo – no lugar de Deus, mas em abolir, pura e simplesmente, o papel indicado pela palavra “Deus”. Niilismo! O Nada no lugar de Deus. Mas não é o caso de nos determos sobre isso neste momento; interromperia a escuta do Apóstolo, que, por sua vez, continua o seu firme raciocínio.

Paulo prossegue a sua acusação mostrando os frutos que brotam, no plano moral, da rejeição de Deus. Daí deriva uma dissolução geral dos costumes, uma verdadeira e própria “torrente de perdição” que arrasta a humanidade em ruína. E aqui, o Apóstolo traça um quadro impressionante dos vícios da sociedade pagã. A coisa mais importante a se considerar, em base a esta parte da mensagem paulina, não é, contudo, esta lista de vícios, presente, além do mais, também junto aos moralistas estoicos do tempo. A coisa mais desconcertante, à primeira vista, é que São Paulo faz de tudo isso desordem moral, não a causa, mas o efeito da ira divina. Por três vezes retorna a fórmula que afirma isso de modo inequívoco:

Por isso, os entregou à impureza (...). Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas (...). E, porque não quiseram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os entregou ao seu reprovado modo de pensar (Rm 1,24.26.28).

Deus, certamente, não “quer” tais coisas, mas ele as “permite” para fazer o homem compreender aonde leva a rejeição a Ele. “Estas ações – escreve Santo Agostinho – embora sejam castigo, são elas também pecados, pois a pena da iniquidade é ser, ela própria, iniquidade; Deus intervém para punir o mal e, da sua mesma punição, abundam outros pecados[1].

Não há distinções diante de Deus entre judeus e gregos, entre fiéis e pagãos: “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3,23). O Apóstolo faz tanta questão de nos esclarecer este ponto, que a ele dedica todo o capítulo segundo e parte do terceiro da sua Carta. É a humanidade inteira que se encontra nesta situação de perdição, não este ou aquele indivíduo ou povo.

Onde está, em tudo isso, a atualidade da mensagem do Apóstolo da qual eu falava? Está no remédio que o Evangelho propõe a esta situação. Ele não consiste em se empenhar em uma luta pela reforma moral da sociedade, para a correção dos seus vícios. Seria, para ele, como querer desenraizar uma árvore começando por lhe tirar as folhas ou os ramos mais expostos, ou então preocupar-se em eliminar a febre, ao invés de tratar a doença que a provoca.

Traduzido em linguagem atual, isto significa que a evangelização não começa com a moral, mas com o querigma; na linguagem do Novo Testamento, não com a Lei, mas com o Evangelho. E qual é o conteúdo, ou o núcleo central disso? O que Paulo quer dizer por “Evangelho” quando diz que ele “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”? Crer no quê? “Manifestou-se a justiça de Deus!” (Rm 3,21): eis a novidade. Não são os homens que, improvisamente, mudaram vida e costumes e se puseram a fazer o bem. O fato novo é que, na plenitude dos tempos, Deus agiu, rompeu o silêncio, estendeu a sua mão por primeiro ao homem pecador.

Mas ouçamos agora diretamente o Apóstolo, que nos explica em que consiste este “agir” de Deus. São palavras que temos lido ou escutado centenas de vezes, mas ama-se escutar sempre de nova as árias de uma bela sinfonia:

Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Esses são justificados gratuitamente pela graça de Deus, por meio da redenção em Cristo Jesus. É ele que Deus expôs como instrumento de expiação com o seu sangue, mediante a fé, para demonstrar sua justiça, deixando sem castigo os pecados outrora cometidos sob a tolerância de Deus; e para demonstrar sua justiça no tempo presente, a fim de ser justo e tornar justo aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,23-26).

Gostaria logo de tranquilizar a todos: não tenho o intuito de fazer uma enésima pregação sobre a justificação mediante a fé. Há um perigo em insistir unicamente sobre este tema. Não é uma doutrina que Paulo nos apresenta, mas um evento, antes, uma pessoa. Nós não somos salvos genericamente “pela graça”: somos salvos pela graça de Cristo Jesus; não somos justificados genericamente “por meio da fé”: somos justificados por meio da fé em Cristo Jesus. Tudo mudou “por meio da redenção em Cristo Jesus”. O verdadeiro artigo com que está em pé ou cai a Igreja (o famoso Articulum stantis edt cadentis Ecclesiae) não é uma doutrina, mas uma pessoa.

Fico sem palavras cada vez que releio esta parte da Carta aos Romanos. Após ter descrito, com os tons que ouvimos, a situação desesperada da humanidade, o Apóstolo tem a coragem de dizer que ela mudou radicalmente por causa do que aconteceu poucos anos antes, em uma obscura parte do império romano, por obra de um só homem, ainda por cima, morto em uma cruz! Apenas uma “ponta” do Espírito Santo, um seu fulgor, podia dar a um homem a ousadia de crer e proclamar esta coisa inaudita. Ainda mais que este mesmo homem outrora se tornava “furioso” se alguém ousasse proclamar em sua presença uma coisa do gênero. O diácono Estêvão pagou tal preço...

Em nós, o choque é atenuado por vinte séculos de confirmações, mas pensemos sobre como deviam soar as palavras do Apóstolo a pessoas cultas do tempo. Ele mesmo se dava conta; por isso, sentiu a necessidade de dizer: “Eu não me envergonho do evangelho” (Rm 1,16). Poder-se-ia, de fato, envergonhar-se dele. Não consigo entender como historiadores honestos possam crer (como aconteceu por tanto tempo) que Paulo tenha tirado esta sua certeza dos cultos helenísticos, ou não sei de qual outra fonte. Quem teria imaginado, ou poderia humanamente imaginar, algo do gênero?

Mas voltemos ao nosso intuito específico, que é a evangelização. O que aprendemos da palavra de Deus que acabamos de ouvir? Aos pagãos, Paulo não diz que o remédio à sua idolatria está em voltar a interrogar o universo para das criaturas reportar-se a Deus; aos judeus, não diz que o remédio está em voltar a observar melhor a Lei de Moisés. O remédio não está no alto ou atrás; está adiante, está em acolher “a redenção em Cristo Jesus”.

Paulo, para dizer a verdade, não diz algo totalmente novo. Se fosse ele o autor desta mensagem inaudita, teriam razão aqueles que dizem que o verdadeiro fundador do cristianismo é Saulo de Tarso, não Jesus de Nazaré. Mas estão errados! Paulo não faz outra coisa senão retomar, adaptando-o à situação do momento, o anúncio inaugural da pregação de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Em sua boca, “convertei-vos” não queria dizer, como nos antigos profetas e em João Batista: “Voltai atrás, observai a Lei e os mandamentos”; significa mais: “Dai um passo à frente; entrai no Reino que gratuitamente veio em vosso meio! Crede no Evangelho!”. Converter-se é crer. “A primeira conversão consiste em crer”, escreveu Santo Tomás de Aquino: Prima conversio fit per fidem[2].

Nem o discurso de Jesus, nem o de Paulo se detêm, naturalmente, neste ponto. Em sua pregação, Jesus exporá o que comporta acolher o Reino e Paulo dedicará toda a segunda parte da sua Carta a elencar as obras, ou as virtudes, que devem caracterizar quem se tornou criatura nova. Ao querigma, faz seguir a parênese, ao anúncio, a exortação. O importante é a ordem a ser seguida na vida e no anúncio, de onde começar, pois, já dizia São Gregório Magno “não se chega à fé partindo das virtudes, mas às virtudes partindo da fé”[3]. Toda iniciativa de evangelização que quisesse começar com reformar os costumes da sociedade, antes de buscar mudar o coração das pessoas, é fadada a cair no nada, ou, pior, na política.

Mas não é o caso de insistir nem mesmo sobre isso, neste momento. Devemos, antes, colher o ensinamento positivo do Apóstolo. O que diz a palavra de Deus a uma Igreja que – mesmo ferida em si mesma e comprometida aos olhos do mundo – tem um suspiro de esperança e quer retomar, com novo impulso, a sua missão evangelizadora? Diz que é preciso recomeçar a partir da pessoa de Cristo, falar dele “oportuna e inoportunamente”; jamais dar por certo, ou pressuposto, o discurso sobre ele. Jesus não deve estar no pano de fundo, mas no coração de todo anúncio.

O mundo secular faz de tudo (e infelizmente consegue!) para manter o nome de Jesus longe, ou silenciado, em todo discurso sobre a Igreja. Nós devemos fazer de tudo para mantê-lo sempre presente. Não para nos refugiarmos por detrás dele, mas porque é ele a força e a vida da Igreja. No início da Evangelii gaudium, lemos estas palavras:

Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito.

Que eu saiba, esta é a primeira vez que, em um documento oficial do Magistério, aparece a expressão “encontro pessoal com Cristo”. Apesar da sua aparente simplicidade, esta expressão contém uma novidade que devemos procurar entender.

Na pastoral e na espiritualidade católica, eram familiares, no passado, outros modos de conceber a nossa relação com Cristo. Falava-se de uma relação doutrinal, que consistia em crer em Cristo; de uma relação sacramental, que se realiza nos sacramentos; de uma relação eclesial, enquanto membros do corpo de Cristo, que é a Igreja; falava-se também de uma relação mística ou esponsal, reservada a algumas almas privilegiadas. Não se falava – ou ao menos não era comum falar – de uma relação pessoal – como entre um eu e um tu –, aberta a todo crente.

Durante os cinco séculos que temos às costas – que impropriamente são chamados “da Contrarreforma” –, a espiritualidade e a pastoral católica têm olhado com suspeita para este modo de conceber a salvação. Via-se aí o perigo (de resto, totalmente o contrário de remoto e hipotético) do subjetivismo, isto é, de conceber a fé e a salvação como um fato individual, sem uma verdadeira relação com a Tradição e com a fé do resto da Igreja. O multiplicar-se das correntes e das denominações no mundo Protestante não fazia outra coisa senão reforçar esta convicção.

Entramos agora, graças a Deus, em uma nova fase, na qual nos esforçamos em ver as diferenças, não necessariamente como incompatíveis entre si e, portanto, a serem combatidas, mas, até onde é possível, como riquezas a serem compartilhadas. Neste novo clima, entende-se a exortação para haver uma “relação pessoal com Cristo”. Este modo de conceber a fé nos parece, antes, o único possível desde quando a fé não é mais um fato pressuposto que se absorve quando crianças com a educação familiar e escolástica, mas é fruto de uma decisão pessoal. O sucesso de uma missão não pode ser medido pelo número das confissões ouvidas e das comunhões distribuídas, mas de quantas pessoas passaram de ser cristãos de nome a cristãos reais, isto é, convictos e ativos na comunidade.

Procuremos entender em que consiste, concretamente, este famoso “encontro pessoal” com Cristo. Eu digo que é como encontrar uma pessoa ao vivo, depois de tê-la conhecido por anos apenas por fotografia. Pode-se conhecer livros sobre Jesus, doutrinas, heresias sobre Jesus, conceitos sobre Jesus, mas não o conhecer vivo e presente (insisto sobretudo sobre estes dois adjetivos: um Jesus ressuscitado e vivo e um Jesus presente!). Para muitos, mesmo batizados e crentes, Jesus é um personagem do passado, não uma pessoa viva no presente.

Ajuda-nos a entender a diferença aquilo que acontece no âmbito humano, quando se passa do conhecer uma pessoa ao enamorar-se dela. Alguém pode conhecer tudo sobre uma mulher ou um homem: como se chama, quantos anos tem, que estudos fez, a qual família pertence... Depois, um dia acende uma fagulha e se enamora daquela mulher ou daquele homem. Tudo muda. Quer estar com aquela pessoa, agradá-la, tê-la para si, tem medo de desagradá-la e de não ser digno dela.


Como fazer para que se acenda em muitos aquela fagulha em relação à pessoa de Jesus?  Ela não se acenderá em quem escuta a mensagem do Evangelho, se não se acendeu antes – ao menos como desejo, como busca e como propósito – em quem o proclama. Houve e há exceções; a palavra de Deus tem uma força própria e pode agir, às vezes, mesmo se pronunciada por quem não a vive; mas é exceção.

Para consolação e encorajamento de quantos trabalham institucionalmente no campo da evangelização, gostaria de lhes dizer que nem tudo depende deles. Deles, depende criar as condições para que se acenda aquela fagulha e se difunda. Mas ela acende nas maneiras e nos momentos mais impensáveis. Na maioria dos casos que conheci em minha vida, a descoberta de Cristo que mudou a vida tinha sido ocasionada a partir do encontro com alguém que já tinha experimentado aquela graça, da participação de um encontro, da escuta de um testemunho, de ter experimentado a presença de Deus em um momento de grande sofrimento, e – não posso omiti-lo, pois assim aconteceu também para mim – de ter recebido o chamado batismo do Espírito.

Aqui se vê a necessidade de designar sempre mais os leigos, homens e mulheres, para a evangelização. Eles estão mais inseridos nas tramas da vida em que normalmente se realizam aquelas circunstâncias. Também pela escassez de número, a nós, do clero, torna-se mais fácil sermos pastores do que pescadores de almas: mais fácil apascentar com as palavras e os sacramentos aqueles que vêm à Igreja, do que partir ao alto-mar a pescar os distantes. Os leigos podem nos suprir na tarefa de pescadores. Muitos deles descobriram o que significa conhecer Jesus vivo e estão ansiosos para compartilhar com outros a sua descoberta.

Os movimentos eclesiais, surgidos após o Concílio, foram para muitos o lugar em que fizeram tal descoberta. Em sua homilia na Missa Crismal da Quinta-feira Santa de 2012, a última do seu pontificado, Bento XVI afirmou: “Quem observa a história do período pós-conciliar pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que tornam quase palpável a vivacidade inexaurível da santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo”. Junto com os bons frutos, alguns desses movimentos produziram também frutos podres. É preciso recordar-se da expressão: “Não jogue o bebê fora junto com a água do banho”.

Termino com as palavras conclusivas do Itinerário da mente para Deus, de São Boaventura, porque elas nos sugerem de onde começar para realizar, ou renovar, a nossa “relação pessoal com Cristo” e nos tornarmos seus corajosos anunciadores:

É este um dom místico e secretíssimo – escreve – que ninguém conhece, senão quem o recebe. Nem o recebe, senão quem o deseja. Nem o deseja, senão quem está inflamado profundamente pelo fogo do Espírito Santo que Jesus Cristo enviou à terra[4].


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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap


 [1] Cf. Agostinho, De natura et gratia, 22,24.


[2] Cf. Tomás de Aquino, S.Th. I-IIae, q.113, a. 4.


[3] Cf. Gregório Magno, Homilias sobre Ezequiel, II,7 (PL 76, 1018).


[4] Cf. Boaventura de Bagnoregio, Itinerarium mentis in Deum, VII,4.


Informações: Vatican News

Reflexão para o III Domingo da Quaresma

No Evangelho, a samaritana vai atrás da água para matar sua sede. Jesus, também. É meio-dia! Lembremo-nos que alguns meses mais adiante, nessa mesma hora, Jesus dirá que tem sede. Será do alto da cruz.

Em nossa vida, quando tudo vai de acordo com os nossos desejos, ficamos alegres, contentes e cordatos. Mas basta acontecer algo que não estava planejado, ou melhor, faltar algo com que contávamos, para que nossa alegria desapareça e comecemos a duvidar de tudo, inclusive daquela pessoa que proporcionou e continua nos proporcionando esses bens. Assim aconteceu com o povo judeu após a libertação do Egito.

Enquanto caminhavam rumo à terra prometida, a água veio a faltar. A reação foi tamanha que esqueceram as maravilhas que o Senhor havia operado em favor deles e até chegaram a desconfiar da fidelidade de Deus. Apesar dessa atitude, o Senhor continuou fazendo o bem ao povo e providenciou a água.

Podemos neste momento, fazer um exame de consciência de nossa vida. O Senhor nos deu a vida, nos alimenta, nos deu família, saúde e uma infinidade de bens, sejam espirituais ou materiais. Qual o nosso comportamento quando algo nos falta? Continuamos a nos sentir o centro do amor de Deus, ou nos esquecemos tudo o que Ele nos presenteou e só estamos atentos àquilo que nos falta?

No Evangelho, a samaritana vai atrás da água para matar sua sede. Jesus, também. É meio-dia!

Lembremo-nos que alguns meses mais adiante, nessa mesma hora, Jesus dirá que tem sede. Será do alto da cruz.

A samaritana escutando Jesus, diz desejar da água que ele lhe oferece, para que todas as suas necessidades sejam saciadas e ela não precise mais vir ao poço. Jesus continua a conversa e a samaritana, entendendo sua proposta, dá um salto qualitativo e deseja a água viva, aquela que irá aplacar não seus desejos limitados, mas a que irá saciar seus desejos de eternidade. Ele fala da nova vida que nos dará através de sua morte e ressurreição, assumida por nós nas águas batismais.

São Paulo, em sua carta aos Romanos, nos diz que a saciedade que ansiamos é um dom de Deus, já usufuruído aqui nesta vida, é o dom do Espírito Santo, o Amor de Deus derramado em nossos corações. Essa é a água que nos sacia, sem a qual não poderemos viver.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

sexta-feira, 10 de março de 2023

Sínodo alemão aprova "bênção" homossexual.


O Sínodo alemão em 10 de março aprovou um documento intitulado "Bênçãos aos casais que se amam", incluindo homossexuais e adúlteros.

Apenas nove bispos votaram contra esta flagrante contradição da verdade e das Sagradas Escrituras, enquanto 38 votaram a favor e 11 se abstiveram. Se estes tivessem votado "não", teriam bloqueado esta "abominação" (ver a Bíblia e o Catecismo).

O voto dos bispos contra o texto não impressionou. O bispo Gregor Hanke (Eichstätt) anunciou seu voto contra porque essas "bênçãos" traçam um paralelo entre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e casamento... como se esse fosse o problema real.

O bispo Rudolf Voderholzer (Regensburg) justificou seu não dizendo que "não tinha certeza" de que uma bênção era a maneira de "respeitar os homossexuais".

Os bispos alemães estarão agora trabalhando em uma cerimônia para bênçãos homossexuais e iniciarão oficialmente esse abuso em março de 2026. Na verdade, essa zombaria de Deus já está sendo praticada e um padre que se opõe a ela é marginalizado.

O homossexualista Johan Bonny (Antuérpia, Bélgica) compareceu "espontaneamente" como orador convidado e disse que os bispos flamengos foram a Roma em novembro de 2022 para falar sobre a "bênção" homossexual com Francisco, que não disse nem sim nem não à "bênção" homossexual. mas falou do "domínio pastoral do seu país"

Francis pediu apenas para permanecer unido [no pecado] perguntando a Bonny duas vezes: "Vocês estão avançando juntos?" Bonny respondeu: "Sim". Atos homossexuais são um pecado mortal que leva à condenação eterna.

Informações e imagem: It.News

quinta-feira, 9 de março de 2023

Francisco reforma Conselho de Cardeais




Em 7 de março, Francisco reformulou seu Conselho de Cardeais, que deveria aconselhá-lo sobre o governo da Igreja. Agora tem nove membros novamente. O Bispo Mellino continua sendo seu secretário.

Substituídos: Bertello (aposentado), Maradiaga (aposentado, ex-coordenador do grupo), Marx (Munique).

Confirmados: Besungu (Kinshasa), Gracias (Bombaim), O'Malley (Boston), Parolin (Curia).

Novos: Da Rocha (São Salvador da Bahia), Hollerich (Luxemburgo), Lacroix (Québec), Omella (Barcelona), Vérgez (Estado da Cidade do Vaticano).

Informações Gloria.TV

terça-feira, 7 de março de 2023

Governo Lula se recusa a condenar repressão na Nicarágua


O Brasil não aderiu a uma carta assinada por 55 países condenando o regime de Daniel Ortega na Nicarágua. A carta foi aprovada em uma reunião no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) na sexta-feira (3) e contou com a adesão de governos de esquerda da América Latina como Chile e a Colômbia, além de potências como EUA, Reino Unido e Alemanha.

Ortega, um ex-guerrilheiro de esquerda que acumula 29 anos no poder na Nicarágua, vem aumentando a perseguição à Igreja desde 2018, quando bispos e padres apoiaram as manifestações de protesto contra o governo nicaraguense por causa das más condições de vida.

O bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, foi condenado a 26 anos de prisão, em 10 de fevereiro deste ano, por “conspiração para minar a integridade nacional e propagação de falsas notícias através das tecnologias da informação e da comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”.

Ordens religiosas como as Missionárias da Caridade fundadas por santa madre Teresa de Calcutá foram expulsas do país. Vários meios de comunicação católicos foram fechados e há padres presos e exilados.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o governo brasileiro chegou a fazer parte da negociação do texto final, sugerindo uma nova linguagem que mantivesse espaço para um diálogo com o governo da Nicarágua. A proposta foi rejeitada e o governo optou por não aderir a carta.

O Partido dos Trabalhadores, fundado em 1982, é um aliado próximo da frente Sandinista de Libertação Nacional, que tomou o poder na Nicarágua em 1979 já sob a chefia de Daniel Ortega.

Com informações ACI DIGITAL

Santas Felicidade e Perpétua


Estas duas santas morreram martirizadas em Cartago (África) em 7 de março do ano 203.

Perpétua era uma jovem mãe, de 22 anos que tinha um bebê de poucos meses. Pertencia a uma família rica e muito estimada por toda a população. Enquanto estava na prisão, a pedido de seus companheiros mártires, foi escrevendo um diário de tudo o que ia acontecendo.

Felicidade era uma escrava de Perpétua. Era também muito jovem e na prisão deu à luz uma menina, que depois os cristãos se encarregaram de criar muito bem.

As acompanharam em seu martírio alguns escravos que foram aprisionados junto com elas, e o catequista, o diácono Sáturo, que as havia instruído na religião e as tinha preparado para o batismo.

Sáturo não foi preso, mas ele se apresentou voluntariamente. Os antigos documentos que narram o martírio destas duas santas, eram imensamente estimados na antigüidade, e Santo Agostinho diz que eram lidos nas igrejas com grande proveito para os ouvintes. Esses documentos narram o seguinte.

No ano 202 o imperador Severo mandou que os que continuassem sendo cristãos e não quisessem adorar aos falsos deuses tinham que morrer. Perpétua estava celebrando uma reunião religiosa em sua casa de Cartago quando chegou a polícia do imperador e a levou prisioneira, junto com sua escrava Felicidade e os escravos Revocato, Saturnino e Segundo.

Diz Perpétua em seu diário: "Nos jogaram na cárcere e eu fiquei consternada porque nunca tinha estado em um lugar tão escuro. O calor era insuportável e éramos muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Parecia que ia morrer de calor e de asfixia e sofria por não poder ter junto a mim o meu filho que era de tão poucos meses e que necessitava muito de mim. O que eu mais pedia a deus era que nos concedesse um grande valor para ser capazes de sofrer e lutar por nossa santa religião"

Afortunadamente no dia seguinte chegaram os diáconos católicos e deram dinheiro aos carcereiros para que passassem aos presos a outra habitação menos sufocante e escura que a anterior, e foram levados a uma sala onde pelo menos entrava a luz do sol, e não ficavam tão apertados e incômodos. E permitiram que levassem o menino à Perpétua, o qual estava secando de pena e acabamento. Ela disse em seu diário: "Desde que tive meu pequenino junto de mim, e aquilo não me parecia uma prisão mas um palácio, e me sentia cheia de alegria. E o menino também recobrou sua alegria e seu vigor". As tias e a avó se encarregaram depois de sua criação e de sua educação.

O chefe do governo de Cartago chamou a juízo a Perpétua e seus servidores. Na noite anterior Perpétua teve uma visão na qual lhe foi dito que teriam que subir por uma escada cheia de sofrimentos, mas que no final de tão dolorosa pendente, estava um Paraíso Eterno que lhes esperava. Ela narrou a seus companheiros a visão que tinha tido e todos se entusiasmaram e se propuseram permanecer fiéis na fé até o fim.

Primeiro passaram os escravos e o diácono. Todos proclamaram diante das autoridades que eles eram cristãos e que preferiam morrer antes que adorar a falsos deuses.

Logo chamaram a Perpétua. O juiz lhe rogava que deixasse a religião de Cristo e que se passasse à religião pagã e que assim salvaria a sua vida. E recordava que ela era uma mulher muito jovem e de família rica. Mas Perpétua proclamou que estava resoluta a ser fiel até a morte, à religião de Cristo Jesus. Então chegou seu pai (o único da família que não era cristão) e de joelhos lhe rogava e lhe suplicava que não persistisse em chamar-se cristã. Que aceitasse a religião do imperador. Que o fizesse por amor a seu pai e a seu filhinho. Ela se comovia intensamente mas terminou dizendo-lhe: Pai, como se chama esta vasilha que há aí na frente? "Uma bandeja", respondeu o pai. Pois bem, "essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de pote ou colher, porque é uma bandeja. E eu que sou cristã, não posso me chamar pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou cristã e o quero ser para sempre".

E acrescenta o diário escrito por Perpétua: "Meu pai era o único da minha família que não se alegrava porque nós íamos ser mártires por Cristo".

O juiz decretou que os três homens seriam levados ao circo e ali diante da multidão seriam destroçados pelas feras no dia da festa do imperador, e que as duas mulheres seriam jogadas e amarradas diante de uma vaca furiosa para que as massacrasse. Mas havia um inconveniente : que Felicidade ia ser mãe, e a lei proibia matar uma mulher que ia dar a luz. E ela sim desejava ser martirizada por amor a Cristo. Então os cristãos oraram com fé, e Felicidade deu à luz uma linda menina, a qual foi confiada a cristãs fervorosas, e assim ela pode sofrer o martírio.

Um carcereiro debochava dizendo: "Agora se queixa pelas dores do parto. E quando chegarem das dores do martírio o que fará? Ela respondeu-lhe: "Agora sou fraca porque sofre a minha pobre natureza. Mas quando chegar o martírio a graça de Deus me acompanhará, e me encherá de força".

Aos condenados a morte permitia que fizessem uma Ceia de Despedia.

Perpétua e seus companheiros converteram sua ceia final em uma Ceia Eucarística. Dois santos diáconos levaram a comunhão a eles, e depois de orar e de animar-se uns aos outros se abraçaram e se despediram com o beijo da paz. Todos estavam animados, alegremente dispostos a entregar a vida para proclamar sua fé em Jesus Cristo.

Os escravos foram jogados às feras que os destroçaram e eles derramaram assim valentemente seu sangue por nossa religião.

Antes de levá-los à praça os soldados queriam que os homens entrassem vestidos de sacerdotes dos falsos deuses e as mulheres vestidas de sacerdotisas das deusas dos pagãos. Mas Perpétua se opôs fortemente e ninguém quis colocar vestidos de religiões falsas. O diácono Sáturo tinha conseguido converter ao cristianismo a um dos carcereiros, chamado Pudente, e disse-lhe: "Para que vejas que Cristo sim é Deus, te anuncio que serei jogado a um urso feroz, e essa fera não me causará dano algum". E assim sucedeu: o amarraram a o aproximaram da jaula de um urso muito agressivo. O feroz animal não quis fazer-lhe nenhum dano, e ao contrário deu uma tremenda mordida no domador que tratava de fazer com que se lançasse contra o santo diácono. Então soltaram a um leopardo e este com uma dentada destroçou a Sáturo. Quando o diácono estava moribundo, untou com seu sangue um anel e o colocou no dedo de Pudente e este aceitou definitivamente tornar-se cristão.

Perpétua e Felicidade foram envolvidas dentro de uma malha e as colocaram na metade da praça, e soltaram uma vaca bravíssima, a qual as chifrou sem misericórdia. Perpétua unicamente se preocupava por ir arrumando a roupa de maneira que não desse escândalo a ninguém por parecer pouco coberta. E arrumava também os cabelos para não parecer despenteada como uma chorona pagã. As pessoas emocionadas ao ver a valentia destas duas jovens mães, pediu que as tirassem pela porta onde iam os gladiadores vitoriosos. Perpétua, como voltando de um êxtase, perguntou: E onde está a tal vaca que ia nos atacar?

Mas logo esse povo cruel pediu que voltasse a trazê-las e que cortassem-lhes a cabeça diante de todos. Ao saber desta notícia, as duas jovens valentes se abraçaram emocionadas, e voltaram à praça. Felicidade teve a cabeça cortada com uma machadada, mas o carrasco que tinha que matar Perpétua estava muito nervoso e errou o golpe. Ela deu um grito de dor, mas estendeu bem a cabeça sobre o cepo e indicou ao carrasco com a mão, o lugar preciso de seu pescoço onde devia dar a machadada. Assim esta mulher valorosa até o último momento demonstrou que se morria mártir era por sua própria vontade e com toda generosidade.

Estas duas mulheres, uma rica e instruída e a outra humilde e simples serva, jovens esposas e mães, que na flor da vida preferiram renunciar às alegrias de um lar, com tal de permanecer fiéis à religião de Jesus Cristo, o que nos ensinam? Sacrificaram um meio século que poderia restar-lhes de vida nesta terra e estão a mais de 17 séculos gozando no Paraíso eterno.

Com informações ACI Digital

sexta-feira, 3 de março de 2023

I Pregação da Quaresma 2023 "Renovar a novidade"


O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 03 de março, a primeira pregação da Quaresma intitulada "Renovar a novidade".

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap


“IPSA NOVITAS INNOVANDA EST”

Renovar a novidade

Primeira Pregação, Quaresma de 2023


 A história da Igreja do final do século XIX e início do século XX nos deixou uma amarga lição, que não deveríamos esquecer para não repetir o erro que a provocou. Falo do atraso (antes, da recusa) em se dar conta das mudanças ocorridas na sociedade, e da crise do Modernismo, que foi a sua consequência.

Quem estudou, mesmo superficialmente, aquele período, conhece o dano que daí acarretou tanto para um lado quanto para o outro, isto é, seja para a Igreja, seja para os chamados “modernistas”. A falta de diálogo, por um lado, levou alguns dos mais conhecidos modernistas a posições sempre mais extremas e por terminar claramente hereticais; por outro, privou a Igreja de enormes energias, provocando lacerações e sofrimentos sem sim em seu interior, fazendo-a debruçar sempre mais sobre si mesma e perder o passo com os tempos.

O Concílio Vaticano II foi a iniciativa profética para recuperar o tempo perdido. Ele realizou uma renovação, que, certamente, não é o caso de ilustrar novamente nesta sede. Mais do que seus conteúdos, interessa-nos, neste momento, o método inaugurado por ele, que é o de caminhar na história, ao lado da humanidade, buscando discernir os sinais dos tempos.

A história e a vida da Igreja não se detiveram com o Vaticano II. Cuidado ao fazer dele o que se tentou fazer com o Concílio de Trento, ou seja, uma linha de chegada e uma meta imóvel. Se a vida da Igreja se detivesse, seria como acontece a um rio, que chega a uma barreira: transformar-se-ia, inevitavelmente, em um pântano ou um brejo.

“Não se deve pensar – escrevia Orígenes no III século – que seja o bastante sermos renovados apenas uma vez; é preciso renovar a própria novidade: ‘Ipsa novitas innovanda est’”[1]. Antes dele, o recém-Doutor da Igreja Santo Irineu escrevera: A verdade revelada é “como um precioso licor contido em um valioso vaso. Por obra do Espírito Santo, ela rejuvenesce continuamente e faz rejuvenescer também o vaso que a contém”[2]. O “vaso” que contém a verdade revelada é a tradição viva da Igreja. O “precioso licor” é, em primeiro lugar, a Escritura, mas a Escritura lida na Igreja que, é a definição mais justa da Tradição. O Espírito é, pela sua natureza, novidade. O Apóstolo exorta os batizados a servirem a Deus “na novidade do Espírito e não na velhice da letra” (Rm 7,6).

Não apenas a sociedade não se deteve ao tempo do Vaticano II, mas sofre uma aceleração vertiginosa. As mudanças que um tempo ocorriam em um ou dois séculos, hoje ocorrem em uma década. Esta necessidade de contínua renovação não é outra coisa senão a necessidade de contínua conversão, estendida desde o fiel, individualmente, até Igreja inteira, em sua componente humana e histórica. A “Ecclesia semper reformanda”. O verdadeiro problema, portanto, não está na novidade; está mais no modo de encará-la. Explico-me. Toda novidade e toda mudança se encontram diante de uma encruzilhada; pode levar a duas estradas opostas: ou a do mundo, ou a de Deus; ou o caminho da morte ou caminho da vida. A Didaqué, um escrito redigido enquanto vivia ao menos um dos doze apóstolos, já ilustrava aos fiéis estes dois caminhos.

Agora temos um meio infalível para tomar sempre o caminho da vida e da luz: o Espírito Santo. É a certeza que Jesus deu aos apóstolos antes de deixá-los: “E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um Paráclito, para que permaneça sempre convosco” (Jo 14,16). E ainda: “O Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a Verdade” (Jo 16,13). Não fará tudo de uma vez, ou de uma vez por todas, mas à medida que as situações se apresentarem. Antes de deixá-los definitivamente, no momento da Ascensão, o Ressuscitado assegura novamente aos seus discípulos a assistência do Paráclito: “Recebereis – diz – a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8).

O intuito das cinco pregações da Quaresma que hoje iniciamos, dito muito simplesmente, é justamente este: encorajar-nos a pôr o Espírito Santo no coração de toda a vida da Igreja, e, em particular, neste momento, no coração dos trabalhos sinodais. Acolher, em outras palavras, o convite urgente que o Ressuscitado dirige, no Apocalipse, a cada uma das sete igrejas da Ásia Menor: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2,7).

É o único modo, além do mais, para não permanecer, eu mesmo, alheio ao empenho em ato pelo sínodo. Em uma das minhas primeiras pregações à Casa Pontifícia, há 43 anos, disse na presença de São João Paulo II: “Tenho continuado a exercer por toda a vida o único encargo que fazia desde criança”. E expliquei em que sentido. Os meus avós maternos cultivavam, por meação, um vasto terreno colinoso. Em junho ou julho, havia a colheita, toda manual, com a foice, encurvados sob o sol. Era uma fadiga enorme. Eu e meus primos éramos encarregados de levar água continuamente aos ceifadores. É isso, eu disse, que tenho continuado a fazer pelo resto da vida. Os ceifadores mudaram, que agora são os operários da vinha do Senhor, e mudou a água, que agora é a Palavra de Deus. Um encargo, o meu, muito menos fadigoso, para dizer a verdade, daquele dos trabalhadores do campo, mas também esse, espero, útil e de algum modo necessário.

Nesta primeira pregação, limito-me em acolher a lição que nos vem da Igreja nascente. Gostaria de mostrar, em outras palavras, como o Espírito Santo guiou os apóstolos e a comunidade cristã a dar os primeiros passos na história. Quando as palavras de Jesus acima recordadas sobre a assistência do Paráclito foram postas por escrito por João, a Igreja já as havia experimentado na prática, e é justamente tal experiência, dizem-nos os exegetas, que se reflete nas palavras do evangelista.

Os Atos dos Apóstolos nos mostram uma Igreja que é, passo a passo, “conduzida pelo Espírito”. A sua guia se exerce não apenas nas grandes decisões, mas também nas coisas de menor importância. Paulo e Timóteo querem pregar o evangelho na província da Ásia, mas “o Espírito Santo os havia impedido”; tentam ir rumo à Bitínia, mas, está escrito, “o Espírito de Jesus os impediu” (At 16,6ss.). Compreende-se, em seguida, o porquê desta guia assim próxima: o Espírito Santo impulsionava deste modo a Igreja nascente a sair da Ásia e olhar para um novo continente, a Europa (cf. At 16,9). Paulo chega a definir-se, em suas escolhas, “prisioneiro no Espírito” (At 20,22).

Não é um caminho retilíneo e sem obstáculos o da Igreja nascente. A primeira grande crise é aquela relativa à admissão dos gentios na Igreja. Não é necessário recordar o seu desenrolar. Interessa-nos apenas recordar como é resolvida a crise. Pedro vai ao encontro de Cornélio e dos pagãos? É o Espírito que lhe ordena (cf. At 10,19; 11,12). E como é motivada e comunicada a decisão tomada pelos apóstolos em Jerusalém de acolher os pagãos na comunidade, sem obrigá-los à circuncisão e a toda a legislação mosaica? Foi resolvida com aquelas extraordinárias palavras iniciais: “Pois decidimos, o Espírito Santo e nós...” (15,28).

Não se trata de fazer arqueologia da Igreja, mas de trazer à luz, sempre de novo, o paradigma de toda escolha eclesial. Não é preciso muito esforço, de fato, para perceber a analogia que há entre a abertura que então se realizou em relação aos gentios, com aquela que hoje se impões em relação aos leigos, em particular, às mulheres, e de outras categorias de pessoas. Por isso, vale a pena recordar a motivação que levou Pedro a superar as suas perplexidades e a batizar Cornélio e a sua família. Lemos nos Atos:

Pedro estava ainda falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que estavam escutando a palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham vindo com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado também sobre os gentios. De fato, eles os ouviam falar em línguas e engrandecer a Deus. Então Pedro falou: “Podemos, por acaso, negar a água do Batismo a estas pessoas, que receberam, como nós, o Espírito Santo?” (At 10,44-47).

Chamado a justificar a sua conduta em Jerusalém, Pedro narra o que acontecera na casa de Cornélio e conclui dizendo:

Então, eu me lembrei do que o Senhor havia dito: “João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”. Se Deus concedeu a eles o mesmo dom que a nós, que acreditamos no Senhor Jesus Cristo, quem seria eu para opor-me à ação de Deus? (At 11,16-17).

Se olharmos bem, é a mesma motivação que levou os Padres do Concílio Vaticano II a redefinir o papel dos leigos na Igreja, isto é, a doutrina dos carismas. Conhecemos bem o texto, mas é sempre útil trazê-lo à memória:

Este mesmo Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas, “distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz” (1Cor 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: “a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum” (1Cor 12,7). Estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de graças e consolação[3].

Estamos diante da redescoberta da natureza não só hierárquica, mas também carismática da Igreja. São João Paulo II, na “Novo millennio ineunte” (n. 45), torná-la-á ainda mais explícita, definindo a Igreja como hierarquia e como koinonia. Em uma primeira leitura, a recente constituição sobre a reforma da Cúria “Praedicate Evangelium” (para além de todos os aspectos jurídicos e técnicos sobre os quais sou um perfeito ignorante) me deu a impressão de ser um passo à frente nessa mesma direção: isto é, em aplicar o princípio selado pelo Concílio em um setor particular da Igreja, que é o seu governo, e a um maior envolvimento dos leigos e das mulheres.

Mas agora devemos dar um passo à frente. O exemplo da Igreja apostólica não nos ilumina apenas sobre os princípios inspiradores, isto é, sobre a doutrina, mas também sobre a praxe eclesial. Diz-nos que nem tudo se resolve com as decisões tomadas em um sínodo, ou com um decreto. Há a necessidade de traduzir na prática tais decisões, a chamada “recepção” dos dogmas. E, para isso, são necessários tempo, paciência, diálogo, tolerância; às vezes, também o compromisso. Quando é feito no Espírito Santo, o compromisso não é uma cessão, ou um desconto dado sobre a verdade, mas é caridade e obediência às situações. Quanta paciência e tolerância teve Deus, após ter dado o Decálogo ao seu povo! Quanto teve que esperar longamente – e deve ainda – esperar pela sua recepção!

Em toda a questão acima recordada, Pedro aparece claramente como o mediador entre Tiago e Paulo, ou seja, entre a preocupação da continuidade e aquela da novidade. Nesta mediação, assistimos a um incidente, que pode nos ser de auxílio também hoje. O incidente é aquele de Paulo que, em Antioquia, censura Pedro de hipocrisia por ter evitado se sentar à mesa com pagãos convertidos. Ouçamos o ocorrido de sua viva voz:

Mas, quando Cefas chegou a Antioquia, opus-me a ele abertamente, pois merecia censura. Com efeito, antes que chegassem alguns de junto de Tiago, ele tomava refeição como os não judeus. Mas, depois que eles chegaram, Cefas começou a esquivar-se e a afastar-se, por medo dos da circuncisão (Gl 2,11-12).

Os “conservadores” do tempo censuravam Pedro por ter ido muito além, indo ao encontro do pagão Cornélio; Paulo lhe censura por não ter ido bem mais além. Paulo é o santo que mais admiro e amo. Mas, neste caso, estou convencido de que se deixou levar (não é a única vez!) pelo seu caráter de fogo. Pedro em nada pecou por hipocrisia. A prova é que, em outra ocasião, Paulo fará, ele mesmo, exatamente o que fez Pedro em Antioquia. Em Listra, ele fez circuncidar o seu companheiro Timóteo “por causa – está escrito – dos judeus que se encontravam nessas regiões” (At 16,3), isto é, para não escandalizar ninguém. Aos Coríntios, escreve que se fez “judeu com os judeus, a fim de ganhar os judeus” (1Cor 9,20) e, na Carta aos Romanos, recomenda ira o encontro de quem ainda não chegou à liberdade da qual ele goza (Rm 14,1ss.).

O papel de mediador que Pedro exerceu entre as tendências opostas de Tiago e de Paulo continua nos seus sucessores. Não certamente (e isso é um bem para a Igreja) de modo uniforme em cada um deles, mas segundo o carisma próprio de cada um que o Espírito Santo (e, presume-se, os cardeais abaixo dele) têm considerado o mais necessário em um dado momento da história da Igreja.

Diante dos acontecimentos e realidades políticas, sociais e eclesiais, somos levados a nos colocar imediatamente de um lado e a demonizar aquele adverso, a desejar o triunfo da nossa escolha sobre a dos adversários (se começa uma guerra, cada um reza ao mesmo Deus para dar a vitória aos próprios exércitos e aniquilar os do inimigo!). Não digo que seja proibido ter preferências: em campo político, social, teológico e assim por diante, ou que seja possível não as ter. Jamais deveríamos, contudo, pretender que Deus se coloque do nosso lado contra o adversário. E nem mesmo pedir isso a quem nos governa. É como pedir a um pai para escolher entre dois filhos; é como dizer-lhe: “Escolhe: ou eu, ou o meu adversário; mostra claramente de que lado estás!”. Deus está com todos e, por isso, não está contra ninguém! É o pai de todos.

O agir de Pedro em Antioquia – como também o de Paulo em Listra – não era hipocrisia, mas adaptação às situações, ou seja, a escolha do que, em uma certa situação, favorece o bem superior da comunhão. É sobre este ponto que eu gostaria de continuar e concluir esta primeira meditação, também porque isto nos permite passar do que diz respeito à Igreja universal ao que diz respeito à Igreja local, antes, à própria comunidade, ou família, e à vida espiritual de cada um de nós (que é o que esperamos, penso, de uma meditação quaresmal!).


Há uma prerrogativa de Deus na Bíblia que os Padres amavam enfatizar: a synkatabasis, isto é, a condescendência. Para São João Crisóstomo, ela é uma espécie de chave de leitura de toda a Bíblia. No Novo Testamento, esta mesma prerrogativa de Deus é expressa com o termo benignidade (chrestotes). A vinda de Deus na carne é vista como a manifestação suprema da benignidade de Deus: “Quando se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade” (Tt 3,4).

A benignidade – hoje também diríamos cortesia – é algo diverso da simples bondade; é ser bom em relação aos outros. Deus é bom em si mesmo e é benigno conosco. Ela é um dos frutos do Espírito (Gl 5,22); é uma componente essencial da caridade (1Cor 13,4) e é indicador de ânimo nobre e superior. Ela ocupa um lugar central na parênese apostólica. Lemos, por exemplo, na Carta aos Colossenses:

Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, vesti-vos com sentimentos de compaixão, com bondade, humildade, mansidão, paciência; suportai-vos uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente. Como o Senhor vos perdoou, fazei assim também vós (Cl 3,12-13).

Este ano, celebramos o quarto centenário da morte de um santo que foi um modelo excelso desta virtude, em uma época também ela marcada por ásperas controvérsias: São Francisco de Sales. Todos deveríamos nos tornar, na Igreja, um pouco mais condescendentes e tolerantes, menos arraigados em nossas certezas pessoais, conscientes de quantas vezes tivemos que reconhecer dentro de nós que estávamos errados a respeito de uma pessoa ou de uma situação, e de quantas vezes tivemos que nos adaptar também nós às situações. Em nossas relações eclesiais, não há, por sorte – e jamais deveria haver –, aquela propensão ao insulto e ao vilipêndio do adversário, que se nota em certos debates políticos e que tanto dano acarreta à convivência civil pacífica.

Há alguém, é verdade, em relação ao qual é justo e necessário ser intransigente, mas esse alguém sou eu mesmo, é o meu eu. Somos inclinados, por natureza, a ser intransigentes com os outros e indulgentes conosco mesmos, enquanto deveríamos nos propor em fazer justamente o contrário: severos conosco mesmos, bondosos com os demais. Este propósito, levado a sério, bastaria sozinho para santificar a nossa Quaresma. Dispensar-nos-ia de qualquer outro tipo de jejum e nos disporia a trabalhar com mais fruto e mais serenidade em cada âmbito da vida da Igreja.

Um ótimo exercício nesse sentido consiste em sermos honestos, no tribunal do próprio coração, em relação à pessoa com quem estamos em desacordo. Quando percebo que estou submetendo alguém a acusação dentro de mim, devo prestar atenção para não me colocar imediatamente da minha parte. Devo parar de passar e repassar as minhas razões como alguém que masca um chiclete, e buscar as minhas razões para me colocar, ao invés, no lugar do outro, para compreender suas razões e o que ele também poderia dizer a mim.

Este exercício não deve ser feito somente em relação à pessoa individualmente, mas também em relação à corrente de pensamento com a qual estou em desacordo e à solução por ela proposta a um certo problema em discussão (no Sínodo ou em outro âmbito). Santo Tomás de Aquino nos dá o exemplo: ele pressupõe a cada sua tese as razões do adversário, que jamais banaliza ou ridiculariza, mas leva a sério e a elas responde com o seu “Sed contra”, isto é, com as razões que considera mais conformes à fé e à moral. Perguntemo-nos (eu, por primeiro): também nós fazemos assim?

Jesus diz: “Não julgueis, e não sereis julgados (...). Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Mt 7,1-3). Pode-se viver, perguntamo-nos, sem jamais julgar? A capacidade de julgar não faz parte da nossa estrutura mental e não é um dom de Deus? Na redação de Lucas, o mandamento de Jesus: “Não julgueis, e não sereis julgados” é seguido, imediatamente, como para explicitar o sentido destas palavras, pelo mandamento: “Não condeneis, e não sereis condenados” (Lc 6,37). Não se trata, portanto, de eliminar o juízo do nosso coração, mas de tirar o veneno do nosso juízo! Ou seja, o ódio, a condenação, o ostracismo.

Um pai, um superior, um confessor, um juiz, quem quer que tenha alguma responsabilidade sobre os demais, deve julgar. Às vezes, o julgar é, antes, justamente o tipo de serviço ao qual alguém é chamado a exercer na sociedade ou na Igreja. A força do amor cristão está no fato de que ele é capaz de mudar de valor até ao juízo e, de ato de não-amor, torná-lo um ato de amor. Não com as nossas forças, mas graças ao amor que “foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Como conclusão, façamos nossa a belíssima oração atribuída a São Francisco de Assis (talvez não seja sua, mas reflete perfeitamente o seu espírito):

Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

Onde houver discórdia, que eu leve a união.

Onde houver dúvida, que eu leve a fé.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.

Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

 E acrescentemos:

Onde houver malignidade, que eu leve a benignidade.

Onde houver aspereza, que eu leve a gentileza!

_______________________________


Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap


[1] Cf. Orígenes, In Rom. 5,8; PG 14, 1042.

[2] Cf. Santo Irineu, Adversus Haereses, III, 24,1.

[3]Lumen gentium, 12.


Com informações: Vatican News

Primeira Sexta-feira do mês | Sagrado Coração de Jesus


"Oh! Quanto o belo Coração de Jesus é fiel para com aqueles que ele chama a seu santo amor! Ele não pode deixar de cumprir tudo o que prometeu.  Ora, ele prometeu ser fiel; ele diz a cada alma que se lhe quer dar: Pois que me dais vosso coração, consinto também em vos dar o meu, contraio aliança convosco; desposo-vos para sempre."

Santo Afonso Maria de Ligório.


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quinta-feira, 2 de março de 2023

Canção Nova elege primeiro sucessor de monsenhor Jonas Abib


O padre Wagner Ferreira, presidente da Fundação João Paulo II, foi eleito presidente da Canção Nova ontem (28). Ferreira sucede monsenhor Jonas Abib, fundador da comunidade, que morreu em 12 de dezembro de 2022. Conforme estatuto aprovado pela Santa Sé, o sacerdote irá presidir a Canção Nova até 2026.

O padre Wagner nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 28 de outubro de 1971. Ele é membro da Comunidade Canção Nova desde 1992 e foi ordenado padre em 27 de dezembro de 1999. Foi Formador Geral da Comunidade Canção Nova entre 2009 e 2015 e ocupava o cargo de vice-presidente desde 2018.

É bacharel em Filosofia pela Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II da arquidiocese do Rio de Janeiro, e em Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pela Faculdade Dehoniana de Taubaté (SP).

O padre Wagner concluiu o mestrado em Teologia Moral pelo Instituto Superior de Teologia Moral da Pontifícia Universidade Lateranense - Academia Alfonsiana de Roma em 2002 e concluiu o doutorado em Teologia Moral pela mesma academia em 2009, obtendo o voto Summa cum laude (Com a Maior das Honras, em latim) em sua tese: “A contribuição dos Novos Movimentos Eclesiais na formação da Consciência Moral: uma análise da experiência da Comunidade Canção Nova no Brasil”. Entre 2006 e 2008, o sacerdote cursou o Master de Bioética pelo Ateneo Pontifício Regina Apostolorum, também em Roma.

A missa de posse, reservada para membros da Assembleia Geral, foi presidida hoje (1º) às 7h por dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, bispo da diocese de Lorena (SP), em Lavrinhas (SP).


Informações: ACI Digital

Padre Wagner Ferreira - Foto: Canção Nova/Assessoria de Imprensa


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